sábado, 12 de fevereiro de 2011

Moção de Censura... a quem?

O Francisco Anacleto está aflito.
Cada vez mais lhe é difícil conciliar a "esquerda caviar" na qual se sente como peixe (talvez esturjão) na água, com as vagas de esquerda "torresmos embrulhados em papel de seda" que contra ele arremetem no seu Bloco.
Era-lhe muito difícil explicar o apoio ao candidato Alegre que aparentemente até parecia estar nos antípodas da linha dominante (se é que isso existe) no Bloco. Caçador inveterado, aficionado confesso de touradas, defensor da pluralidade sindical, e acima de tudo (brrrrr!!!, Credo, cruzes, canhoto!) militante do Partido Socialista! Mas tinha um milhão de votos! (pensava Anacleto!)
Por isso, como bom educador da classe operária, num trejeito estalinista (tanto mais de louvar quanto vindo de um ex-Leonino Trotsky) decidiu o apoio em bloco, do Bloco, ao candidato Alegre!
E já se imaginava, bucólico, a passear nos jardins de Belém como Chefe da Casa Civil. Aliás trataria logo de acabar com a Casa Militar.
Mas o povo, sempre o mesmo ingrato, não quis assim. E o Anacleto do Alegre se fez Triste.
Anacleto, no seu polo Lacoste genuíno, mas a que mandou coser o crocodilo ao contrário para parecer de contrafacção, pensou rápido...
Havia que explorar o ter ficado à frente do candidato do PC, aquele senhor que ninguém conhecia, nem ele próprio. Podia ser que o 2º lugar ainda desse acesso às competições europeias...
Mas entretanto, a Praça Tahrir do Bloco começava a encher-se de berloquistas da mais revolucionária cepa, verdadeiro carrascão da revolução, inimigos jurados da Cabernet-Sauvignon do Anacleto, mesmo que misturada com "Rabo de Ovelha" (e de Carneiro porque no Bloco são muito criteriosos nisto do género) e com um cheirinho de Trincadeira na Direita.
E foi assim que, Mubarakiantemente, Francisco Anacleto, após ouvir todos aqueles em quem confia no Bloco (frente ao espelho com que se barbeia todas as manhãs) sacou da sua cartola (mascarada de boina basca) o seu Coelho Continental (para não confundir com o madeirense): A Moção de Censura!
A opção era clara: Ou avançava com esta Moção de Censura ao Governo, já que não pode avançar com uma  Moção de Censura ao povo que não percebeu a sua escolha, que não se deixou guiar por quem está naturalmente fadado para o fazer, ou seria ele próprio censurado no seu mais que nunca partido.
Era a forma de Anacleto fazer soar no seu partido as "proletárias vovuzelas" do toque a Reunir (em torno dele, claro).
Ou seja e agora falando a sério, esta Moção de Censura é uma mera inciativa para consumo interno do Bloco, uma "prova de vida à esquerda" de Francisco Anacleto, tentando antecipar-se aqueles que no seu Partido estão a preparar-se para partir a Louçã toda!
A não ser que...
A não ser que os sectores mais "bloqueados" do PSD, com os principais inimigos de Passos Coelho (quiçá com Cavaco) à cabeça, cedam  à tentação de subir a todo o custo para o combóio do poder e decidam apoiar a moção. (A alternativa, meramente académica, seria o golpe de teatro do próprio PS viabilizar a moção e dizer-lhes que já que têm tantas ideias então que tomem  as rédeas do poder e mostrem a verdadeira cara, o que, obviamente,  não irá acontecer).
Nesse caso, o Bloco acabaria por cumprir aquilo que muitos consideram ser o seu único papel histórico, o de ser o PRD do século XXI.
A memória dos peixinhos vermelhos, dizem os biólogos, é de 6 segundos. A do Bloco, digo eu, não ultrapassa uma legislatura.
No passado vociferaram contra os governos de Guterres, a que acusaram de serem governos de direita, cuja queda só traria vantagens ao país e aos trabalhadores. Seguiu-se-lhe Santana Lopes e aí sim  viram o que era um governo de direita e as suas políticas. Claro que até hoje nenhum bloquista me conseguiu dar um único exemplo de alguma melhoria trazida pelo governo Santana Lopes aos trabalhadores, de que o Bloco se afirma, reafirma e clama e proclama ser o mais lídimo defensor!
O mesmo se irá passar se o Governo do Partido Socialista for substituído por um governo do PSD, pois a receita de Passos Coelho é clara e ele não a esconde: liberalização dos despedimentos individuais, despedimentos e mais cortes salariais na Função Pública, cortes salariais na privada, ataque frontal à Escola Pública, despedimento de professores, fim do SNS, etc, etc, enfim, a agenda liberal em todo o seu esplendor.
É esta a caixa de Pandora que, para salvar o seu pescoço, Francisco Anacleto está disposto a abrir, o que, para muitos sectores do Bloco, adeptos confessos do "quanto pior melhor", é perfeitamente legítimo.
Ou então é só infantilidade política.




segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Políticos anti-político? Ou mero populismo?

Vira na volta regresso ao meu blog. Desta vez a propósito da pretensa manifestação contra os políticos que está a ser convocada através das redes sociais, nomeadamente do facebook.
Declaro desde já que acho no mínimo bizarra esta ideia. Há menos de um mês os portugueses foram chamados a eleger um Presidente da República. Mais de metade pereferiu não mexer o cú de casa e perder 30 minutos do seu precioso tempo em frente à TV a ir depositar na urna o seu desejo expresso, o seu mandato pessoal, a quem nos iria governar. E não foi por falta de alternativas. Havia candidatos para todos os gostos! Não houve foi espírito cidadão para ir votar.
O que não espanta, tanto e tão despudoradamente se tem investido no estiolar da cidadania, com orgãos de comunicação e analistas e "paineleiros" à frente, esforçando-se por elevar a "opinião pública" o que não passa de "opinião publicada".
E agora, a reboque das manifestações no norte de África, onde os povos não poderiam manifestar-se de outra forma já que não vivem em democracia, não têm eleições livres nem direito de expressão, surgem uns "anónimos" a convocarem uma manifestação "contra os políticos"...
Em primeiro lugar devo dizer que no mínimo é de desconfiar de quem pretende começar uma carreira de político em luta contra os políticos.
Depois desconfio de anónimos. Em democracia as pessoas dão a cara. Pelo menos aqueles que a têm, o que parece não ser o caso.
Acresce que considero que o populismo não é mais que o escadote que eleva os ditadores ao poder.
E que se há coisa que me tira do sério é o oportunismo descabelado daqueles que não tendo votado se arrogam o direito de questionar as escolhas de quem cumpriu o seu dever cívico. Numa linguagem clubística (aparentemente a única que muitos deles perceberão), é o mesmo que, sem pagar as quotas do clube querer arrogar-se o direito de votar para a eleição do Pesidente, ou até candidatar-se a Presidente do clube!
Sócrates, Cavaco, Passos Coelho, Portas, Louçã, Jerónimo, etc, podem não ser os melhores políticos mas não tomaram o poder dos seus cargos ou dos seus partidos. Foram para eles eleitos. Estão legitimados!
Não votei em Cavaco. Mas desde dia 23 ele é o meu Presidente da República, até novas eleições e não questiono a sua legitimidade.
Quem não gosta, que crie outros partidos, ou lute dentro dos que existem.  Mas que vá a votos, que se sujeite a um sufrágio real e não apenas o dos decibeis de uma manifestação, o da vozearia de uma turbamulta que, mesmo numerosa, não representará senão uma ínfima minoria do povo português.
Quer-se mesmo saber o que pensa o povo? Torne-se obrigatória a participação nos actos eleitorais. Não é um dever cívico pagar os impostos? Não era um dever cívico cumprir o serviço militar obrigatório? Onde está a violência de se obrigar um cidadão a exprimir a sua vontade? Não é sequer obrigado a votar em ninguém. Pode votar em branco, ou nulo. Mas DEVE votar!
Deixem-se os comentadores, analistas e outros artistas, de tretas. A nossa abstenção não revela descontentamento, revela laxismo, comodismo, preguiça!
Bastava passarem o dia das eleições para um dia de semana com dispensa de meio dia para quem apresentasse o comprovativo de ter votado para ver como a abstenção diminuia a pique!
E a prova de que a abstenção não é um cartão amarelo aos políticos é o facto de até quando somos chamados a pronunciarmo-nos sobre aspectos que resultam das mais profundas das nossas convicções íntimas e em que até os políticos estão divididos, a maioria dos portugueses declina essa responsabilidade. Veja-se o caso dos Referendos que nunca conseguiram 50% de votos. A abstenção é, isso sim, um cartão amarelo à cidadania. E a situação não se resolve com "uma invasão de campo".
Salazar só governou 48 anos porque a maioria dos portugueses sentia-se confortável a não ter de pensar nem decidir. O  Botas fazia-o por eles.
E no fundo o 28 de Maio começou por ser um pronunciamento contra os políticos.
Por isso não vou e apelo a todos para não irem a esta nova versão da "Maioria Silenciosa" que agora se mascara de "Maioria Barulhenta".
E deixo uma pergunta incómoda: Por que razão a manifestação é contra os políticos e não contra quem de facto nos colocou na crise em que estamos, os banqueiros e os especuladores? Ou será que esses também vão estar na manifestação? Ou por detrás dela?