segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

AMINATU, UMA NOVA SUU KYI???


As mais recentes notícias vêm confirmar o que muitos já esperavam. Aminatu Haidar parece estar sob prisão domiciliária em El Aaiún e apenas pode contactar os familiares mais próximos.
Ou seja, dia a dia cresce a semelhança entre a sua situação e a da activista pela democracia na Birmânia Aang Suu Kyi.
Só que a situação de Suu Kyi arrasta-se há cerca de 20 anos.
Na altura, os países ocidentais tentaram "assobiar para o lado", e até mesmo ocultar o facto das suas opiniões públicas... A guerra fria ainda não tinha terminado e havia "boas desculpas", nomeadamente a distância a que tudo se estava a passar, e o facto de os ditadores militares serem geralmente aliados naturais na luta contra o comunismo (pelo menos até figurões como Chavez virem provar exactamente o contrário). A verdade é que as diplomacias ocidentais acordaram tarde para a inacreditável e inaceitável situação de Suu Kyi.
E deste vez qual vai ser a desculpa para fazer de conta que não se vê a situação da activista sahaurí? Será a Real Politik? É que, francamente, a distância não pode ser, já que Marrocos está tão perto que os seus imigrantes clandestinos até nos chegam em barcos a remos. Vamos permitir que a História se repita? Os nossos Governos tão (justamente) preocupados com a imigração clandestina, não perceberão de uma vez por todas que a arma mais eficaz para a combater é promover o desenvolvimento económico e social dos países de origem dessa imigração e que uma condição sine qua non para esse desenvolvimento é a instauração de regimes democráticos?
Uma coisa é certa, lá por Aminatu ser uma activista sahauri (e que belo exemplo para as mulheres islâmicas que lutam pela sua dignidade), escusa o rei de Marrocos de nos atirar areia para os olhos! Aminatu é uma prisioneira política, uma prisioneira de consciência de um regime totalitário.

domingo, 27 de dezembro de 2009

OPOSIÇÃO: SE O RIDÍCULO MATASSE...


Se o ridículo matasse, a oposição que temos contimuaria empenhada num continuado e penoso suicídio colectivo.
Ó último dislate vem relatado no Diário de Notícias de hoje e prende-se com as reacções à  nomeação da professora Armandina Soares para o Conselho Nacional da Educação http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1456430&seccao=Sul
Convém lembrar que o CNE é composto por 68 membros, dos quais apenas 7 são nomeados pelo Governo.
Pois para a Oposição que temos, o Governo cometeu o ignominioso crime de nomear para um desses 7 lugares uma professora que publicamente tem apoiado o Governo!
Esta posição, vinda do Mário Nogueira, até se percebe. Manifestamente nunca conseguiu perceber o que são eleições livres e o que é "mandato popular" para governar. O modelo que conhece e defende enquanto militante ortodoxo do Partido Comunista não prevê essas "mariquices burguesas". Há um partido único, este governa e se houver quaisquer Comités, são nomeados pelo Partido.
Haja alguém que explique ao Mário Nogueira que Portugal é um país livre e democrático (apesar do Partido Comunista e não graças ao Partido Comunista), onde há eleições livres e democráticas e onde as últimas deram uma maioria clara ao Partido Socialista para governar. E atenção que o objectivo de uma força política que concorre a eleições não é só o de chegar ao poder. É igualmente o de ocupá-lo e exercê-lo! E exercê-lo com o seu programa e não com o dos partidos que foram derrotados pelo sufrágio popular. E isso passa, óbvia e naturalmente, por nomear para os lugares de nomeação governamental pessoas da confiança do Governo, quadros competentes que garantam a implementação e execução das suas políticas, maioritariamente sufragadas pelo voto  popular. É assim que se passa em todas as democracias.
Patético é o facto de a chicana política, o esterco ideológico em que se movem os Mários Nogueiras da nossa praça lhes provocar uma total cegueira. Nem param para pensar nas asneiras antes de as proferirem.
Dizer, como diz um tal de Paulo Guinote, que uma professora é nomeada para o CNE em 2009 sem ter curriculo e apenas por ter apoiado a política do anterior executivo, quando essa mesma professora, com 37 anos de carreira, já tinha sido condecorada em 2004 pelo Presidente Jorge Sampaio com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Instrução Pública, e em 2007 com o Prémio de Mérito Liderança, sem que tais distinções tenham provocado qualquer contestação, só demonstra a mais pura das ignorâncias sobre o que está a falar.
E é a gente desta que está entregue a educação dos nossos filhos? Felizmente não, já que a maioria dos professores são profissionais qualificados, dedicados e competentes. E já agora, por que é que os senhores Nogueira, Guinote e outros que tais nunca questionaram as nomeações dos representantes governamentais para o CNE quando o PSD estava no Governo?
Só posso saudar a decisão do PS e exigir-lhe que governe de acordo com o seu programa, em diálogo mas nunca em submissão à "ditadura" da oposição. Foi para isso que eu a a maioria dos portugueses lhe demos o nosso voto. Se quisessemos que governasse com o programa do PCP teríamos votado na CDU!

Edward Schillebeeckx




Ocupados que andávamos com as prendas, bolos-rei e quejandos, nem demos pela morte, dia 24, de Edward Schillebeeckx, um teólogo progressista holandês e um dos últimos sobreviventes do Concílio Vaticano II no qual aliás conheceu Ratzinger, o pastor alemão, do qual afirmou "já na altura havia nele algo que não me agradava. Nunca falava nas reuniões". O tempo encarregou-se de revelar como Ratzinger pouco devia ter para dizer no decurso do Vaticano II.
Foi igualmente Schillebeeckx que à tradicional forma vulgarizada pela cúria de que "Fora da Igreja não há Salvação", contrapôs a muito mais inclusiva fórmula de que "Fora do Mundo não há salvação".
Foi igualmente um defensor do diálogo de culturas.
O seu pensamento moderno valeu-lhe, entre 1968 e 1984, três processos por parte da Congregação para a Doutrina da Fé, a herdeira da velha Inquisição.
Para além da sua mensagem de justiça, tolerância e compreensão do progresso do mundo e das sociedades, deixa-nos a Revista Internacional de Teologia  Concilium que fundou juntamente com outros teólogos progressistas.
A sua obra merecia ser mais conhecida, por muito que isso custe a alguns sectores da Igreja Católica.



quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

QUEM NOS ESCUTA?



A repressão só é verdadeiramente repressão quando nos afecta, quando nos condiciona, quando nos provoca mudanças comportamentais.
Penso que esta afirmação se aplica a qualquer forma de repressão, que só passa a ser verdadeiramente eficaz quando provoca em nós mecanismos defensivos de autocensura.
Vem isto a propósito das escutas telefónicas. E do facto de desde algum tempo a esta parte ter dado por mim, num acto inconsciente, no decurso de algumas conversas telefónicas sobre assuntos políticos, profissionais, ou até mesmo pessoais, rematar a conversa com um "Prefiro não falar disso ao telefone. É melhor irmos tomar um café e falarmos directamente". E estou a falar de conversas com alguma banalidade. Ou seja, 35 anos depois do 25 de Abril dou por mim a repetir esquemas de precaução e de autocensura que já não adoptava desde os tempos da militância antifascista.
E com uma agravante: É que nessa altura eu sabia quem me escutava e com que finalidade. Hoje não sei quem o faz nem com que objectivo (mesmo podendo facilmente adivinhar alguns). E o que é mais preocupante é que isso é o que parece preocupar menos os poderes instituidos entre os quais incluo a comunicação social que temos.
Como é possível que se reconheça a ilegalidade e ilegitimidade de escutas efectuadas ao Primeiro-Ministro e mesmo assim elas acabem por ser divulgadas pela comunicação social sem que seja visível qualquer esforço real para identificar e punir severa e exemplarmente os responsáveis quer pela sua realização, quer pela sua divulgação à comunicação social?
Quem nos protege de quem é suposto proteger-nos?
Com este big-brother tão presente como poderemos permanecer filhos únicos?
Será que há magistrados que sabem e calam?
Será que há uma "polícia política" privada metastizada na nossa sociedade?
E a ser assim onde está o cancro que originou estas metásteses?
Isso sim é o que me preocupa, e não o saber se o Primeiro-Ministro chamou ou não "velha" à Ferreira Leite na conversa telefónica com Armando Vara.
O que está verdadeiramente em causa não é o regime das escutas... é o regime democrático!
E lanço um aviso a todos os partidos democráticos: Só existem porque há democracia. Olhem para Itália e vejam o que aconteceu. Meditem como um inicial combate à dita "corrupção", uma operação mãos-limpas, culminou no desmoronar dos partidos democráticos tradicionais e na subida ao poder do mafioso cretino Berlusconni.
E quando virem as barbas do parceiro a arder não esfreguem as mãos de contentes... A seguir serão as vossas, até o Poder ser conquistado por um Berlusconni português que, se calhar, até já está a fazer aquecimento.

O RESSAIBIADO

Após uma relativamente grande ausência motivada por gripes familiares, viagens de trabalho e pura preguiça intelectual aqui estou de novo a comentar para mim próprio o país e o mundo em que vivo, numa perspectiva que pretendo de esquerda.
E regresso um pouco bilioso. Estou no Luxemburgo e o único jornal português visível num quiosque é o Jornal de Notícias. E nele são dadas mais umas linhas de visibilidade a uma personagem que me provoca um verdadeiro asco intelectual, o Medina Carreira!
Igual a si próprio persegue a aspiração de entrar para o Guiness Book of Records como o ser que mais mal-dizer (já que lhe falta a dimensão intelectual para o escárnio) consegue produzir sobre o maior número de pessoas e políticas em menor tempo.
E nesta edição do JN dá mais um passo de gigante nesse sentido. A convite de outra maldizente encartada, a Fátima Campos Ferreira, foi ao Casino da Figueira da Foz vomitar um jackpot de invectivas lapidares e (pre)juízos de valor sobre tudo e todos mas, claro, com especial predilecção para o Governo do PS, para a Assembleia da República e para os políticos em geral.
No mesmo jornal consegue chamar "trafulhice" ao Programa Novas Oportunidades, "mentira" à medida proposta de alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12º ano, "mentirosos e incompetentes" aos membros do Governo, e aos estudantes apelidou-os de "cambada, de 14, 16, 20 anos que anda por aí à solta" e de "tropa fandanga".
Mas não se ficou por aí. Do alto da sua insuportável arrogância classificou os deputados de "obedientes e escravozitos", o sistema eleitoral de "saco de gatos" e a Assembleia da República de "construção caduca", comparando-a mesmo à Assembleia Nacional de Salazar.
Mas só quem andar distraído pode ficar chocado com a diarreia verbal deste ancião que teima em vestir calções à inteligência para parecer um enfant-terrible.
Sim, é o mesmo Medina Carreira que um dia disse que os portugueses "deviam voltar a andar de burro como os avós!" ou que "os políticos usam o país como uma manjedoura."  Que afirmou nunca ter preenchido uma reclamação porque não perde tempo com inutilidades (grande sentido cívico). E que não tem qualquer pudor em dizer coisas como "Salazar liquidou duas gerações e a democracia está a liquidar quatro" ou "Não há soluções e quem não disser isso é trafulha."
Mas para Medina Carreira não há gente competente neste país? Claro que há! Veja-se a sua frase lapidar de que "Se a minha voz fosse respeitada não se andavam a fazer estas burrices" Claro que ao proferi-la se esqueceu do que ele próprio tinha dito ao "Expresso" a 24 de Outubro: "Mesmo um sábio, um compositor, um génio tem de ser modesto. A imodéstia é um sintoma de estupidez. " Por uma vez estou de acordo com ele.
Mas será que não tem razão em nada do que diz? Claro que terá... Até um relógio parado está certo 2 vezes por dia. E ele dispara em tantas direcções que há-de acertar em algo que mexa!
Mário Soares chamou-lhe um dia a "Cassandra Lusitana". Infeliz comparação já que a Cassandra previu a destruição de Tróia e acertou. Medina Carreira prevê a destruição de tudo a não ser que o elevassem oficialmente a "Salvador da Pátria". Confessa-se um adepto do presidencialismo, só não diz que o Presidente, o Sidónio dos tempos modernos, só podia ser ele.
E  não deixa de ser curioso lembrar que quem tanto mal diz dos governos do pós 25 de Abril tenha sido subsecretário de Estado do Orçamento e mais tarde Ministro das Finanças. Porque não aproveitou para "salvar o mundo nessa altura"? Salazar também começou por aí...
E é igualmente curioso (mas politicamente muito relevante e revelador) o facto deste "racha-políticos" ter de forma bem clara e pública apoiado Cavaco Silva aquando das eleições presidenciais... É que o candidato não tem mesmo nada em comum com a imagem de político que Carreira diz defender...
Mas não quero ser eu a tentar dissecar este Carreirismo.
Apenas quero dizer que isto vem provar algo que disse há algum tempo quando um amigo me disse que, para discutir a esquerda era preciso ouvir homens de esquerda como Medina Carreira. Respondi na altura que o bota-abaixismo, a arrogância intelectual de uma pretensa "superioridade moral e/ou intelectual" (mesmo quando alicerçada em critérios tão bacocos como a educação espartana dos Pupilos do Exército - a Manuela Ferreira Leite terá andado no Colégio de Odivelas?? ), uma visão paternalista e de certa forma afectadamente Queirosiana, militantemente pessimista, não é, nem nunca será, uma atitude de esquerda.
Medina Carreira não é um homem de esquerda. É apenas e só um ressaibiado! E pouco me interessa o quadrante do seu ressaibiamento. Algumas das coisas que hoje defende não deveriam ser defendidas pela esquerda moderna? Claro que deviam. Mas no dia em que essa esquerda tiver oportunidade de as pôr em prática, Medina Carreira virá a público contradizer-se e dizer que não prestam.
É que este homem se tivesse a boca um pouco maior seria um sério candidato a substituir a Manuela Moura Guedes no Jornal de Sábado da TVI!