quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

QUEM NOS ESCUTA?



A repressão só é verdadeiramente repressão quando nos afecta, quando nos condiciona, quando nos provoca mudanças comportamentais.
Penso que esta afirmação se aplica a qualquer forma de repressão, que só passa a ser verdadeiramente eficaz quando provoca em nós mecanismos defensivos de autocensura.
Vem isto a propósito das escutas telefónicas. E do facto de desde algum tempo a esta parte ter dado por mim, num acto inconsciente, no decurso de algumas conversas telefónicas sobre assuntos políticos, profissionais, ou até mesmo pessoais, rematar a conversa com um "Prefiro não falar disso ao telefone. É melhor irmos tomar um café e falarmos directamente". E estou a falar de conversas com alguma banalidade. Ou seja, 35 anos depois do 25 de Abril dou por mim a repetir esquemas de precaução e de autocensura que já não adoptava desde os tempos da militância antifascista.
E com uma agravante: É que nessa altura eu sabia quem me escutava e com que finalidade. Hoje não sei quem o faz nem com que objectivo (mesmo podendo facilmente adivinhar alguns). E o que é mais preocupante é que isso é o que parece preocupar menos os poderes instituidos entre os quais incluo a comunicação social que temos.
Como é possível que se reconheça a ilegalidade e ilegitimidade de escutas efectuadas ao Primeiro-Ministro e mesmo assim elas acabem por ser divulgadas pela comunicação social sem que seja visível qualquer esforço real para identificar e punir severa e exemplarmente os responsáveis quer pela sua realização, quer pela sua divulgação à comunicação social?
Quem nos protege de quem é suposto proteger-nos?
Com este big-brother tão presente como poderemos permanecer filhos únicos?
Será que há magistrados que sabem e calam?
Será que há uma "polícia política" privada metastizada na nossa sociedade?
E a ser assim onde está o cancro que originou estas metásteses?
Isso sim é o que me preocupa, e não o saber se o Primeiro-Ministro chamou ou não "velha" à Ferreira Leite na conversa telefónica com Armando Vara.
O que está verdadeiramente em causa não é o regime das escutas... é o regime democrático!
E lanço um aviso a todos os partidos democráticos: Só existem porque há democracia. Olhem para Itália e vejam o que aconteceu. Meditem como um inicial combate à dita "corrupção", uma operação mãos-limpas, culminou no desmoronar dos partidos democráticos tradicionais e na subida ao poder do mafioso cretino Berlusconni.
E quando virem as barbas do parceiro a arder não esfreguem as mãos de contentes... A seguir serão as vossas, até o Poder ser conquistado por um Berlusconni português que, se calhar, até já está a fazer aquecimento.

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