sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

OS PILATOS DA ECONOMIA

A crise que atravessamos tem causado o fecho de muitas empresas e o desaparecimento de inúmeros empregos. No entanto, e a um ritmo semelhante, é responsável pelo surgimento de inúmeros Pilatos, que à semelhança do Perfeito romano apenas se destacam pela ligeireza com que dela lavam as mãos, como se de meros observadores externos se tratassem, quando na realidade são dela actores principais.

Ainda ontem Pedro Ferraz da Costa, antigo "patrão dos patrões" na CIP e que curiosamente tem abandonado o quase anonimato da criação de puros-sangues lusitanos a que se tinha remetido a medida que o mandato de VanZeller se aproximou dio fim, veio a público dizer que a economia portuguesa destruiu mais emprego e empresas que qualquer outro país da UE. Parece-me um "culpado" demasiado vago... E não perde tempo em propor um remédio, o mais previsível em Faraz da Costa: contenção salarial. Mas com pias intenções, claro... Não a de manter o nível de lucro dos (ou de alguns) empresários, mas sim a de diminuir o consumo.
Não quero sequer comentar esta estranha estratégia de retomar a economia através da diminuição do consumo... Quero apenas referir que Ferraz da Costa tinha obrigação de saber que muitos fechos de empresas e perdas de postos de trabalho não se devem, pelo menos fundamentalmente, à crise mas sim ao oportunismo e falta de escrúpulos de muitos patrões que se têm valido das suas "costas largas" para ilegalmente procederem ao fecho das empresas ou ao despedimento de trabalhadores.
Os números divulgados pela ACT são disso bem claros e Ferraz da Costa deveria ter a obrigação profissional de os conhecer e a seriedade intelectual de os referir.
Na mesma ocasião sobe de novo à ribalta João Salgueiro, o antigo presidente da Associação Portuguesa de Bancos e a mais recente visita assídua de Belém, que veio dizer que os portugueses estão a viver acima das suas possibilidades, esquecendo-se, também ele, de alguns elementos fundamentais para a compreensão do fenómeno, nomeadamente a facilidade com que a Banca, a que já presidiu, cria necessidades de consumo artificiais, concede crédito para elas e vai aumentando os plafonds desse mesmo crédito até aos limites do irreversível. Isto para não falar da nunca convenientemente explicada razão pela qual, em plena crise os bancos mantêm os seus elevados lucros quase inalterados, quando não mesmo os aumentam.
E continuou dizendo que, ou aumentamos a produtividade ou a alternativa será emigrar. Só não diz é para onde. Mas eu dou uma ajuda a decifrar o enigma. Atendendo a que a crise é global e afecta também os restantes países de destino habitual da emigração portugesa, restam os países para onde os apaniguados de Ferraz da Costa e João Salgueiro deslocalizam as empresas, ou seja, os países sem direitos sociais ou laborais.

Em suma, custa ver tantos Pilatos a lavarem as mãos enquanto as empresas e os trabalhadores portugueses são crucificados, num culto perverso ao Deus ganância.

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