Mais uma vez a natureza mostrou-se inclemente para com os agricultores, desta vez da região Oeste. A chuva, o granizo e sobretudo o vento, destruiram colheitas e estufas.
Como quase sempre acontece, os agricultores, enquanto esperam que o processo burocrático associado aos seguros (daqueles que os tinham), os indemnize dos prejuízos sofridos, que nalguns casos foram bastante elevados, deitaram mãos à obra de reconstrução das estufas, tentando salvar o que ainda pudesse ser salvo.
Até aqui tudo normal. Ao fim e ao cabo é a luta que desde o Neolítico o homem trava com a Natureza para dela extraír os seus frutos. Geralmente ganha, algumas vezes perde. Normalmente a comunicação social retrata e relata em grande pormenor a destruição, até porque todos sabem que "a tragédia vende", depois aproveita para umas alfinetadas aos governos, sejam eles quais forem, a pretexto dos atrasos na distribuição dos subsídios e, como entretanto outras tragédias ocorrem, a notícia acaba por se perder e as vítimas de ontem, após os seus "2 minutos" de celebridade, caiem no esquecimento dos media.
Só que neste caso algo de diferente se passou. Desde logo porque começámos a ser metralhados por notícias que acusavam a ACT de estar a impedir a reconstrução das estufas e de dificultar a recuperação no Oeste.
Acusação grave, para um organismo do Estado, com as responsabilidades da ACT. Acusação gratuita, reproduzida sem qualquer preocupação pela verdade por parte de alguma comunicação social totalmente irresponsável. O que se passa na realidade é bem distinto. O que os funcionários da ACT fizeram foi apenas fazer cumprir a lei e impedir que essa mesma reconstrução se verificasse em total desrespeito pelas mais elementares regras de Segurança e Saúde no Trabalho.
E em boa hora o fizeram. Foi graças a essa acção que nalguns casos se impediu que aos danos materiais causados pela natureza se juntassem danos pessoais causados pela negligência do homem.
Há também que dizer-se que as situações relatadas se passaram com uma minoria de horticultores. Mas foi exactamente essa minoria que por obra e graça de alguma comunicação social irresponsável e que não esconde o combate a este Governo, se viu quase transformada em maioria!.
Chegou-se ao cúmulo de, num jornal regional, se referir um horticultor que teria sido intimado pelos inspectores da ACT a apresentar documentação que, segundo ele, teria desaparecido com o temporal que provocou a destruição das estufas. E quais eram esses documentos? A notícia enumera-os: o mapa do horário de trabalho, o relatório anual de formação dos trabalhadores e o relatório anual de Segurança e Higiene no Trabalho. Se não fosse um caso tão sério seria caricato. O que tem a destruição das estufas a ver com o desaparecimento destes documentos? Acaso o mapa de horário de trabalho está afixado numa folha de couve dentro da estufa? O relatório anual de formação é arquivado num canteiro entre os morangos e as alfaces? E o relatório anual de SHT está debaixo do vaso dos coentros? O jornalista (?) não deveria investigar antes de escrever? Ou sabe muito bem o que escreve mas os intuitos são outros?
Parece-me que neste caso a intempérie para além de destruir estufas e colheitas veio também pôr a nu situações de incumprimento que de outra forma e atendendo aos exíguos meios humanos da ACT dificilmente seriam detectadas.
Curiosamente é a mesma comunicação social que vocifera contra as elevadas taxas de sinistralidade laboral existentes no nosso país e que acusa o Governo de pouco fazer para as combater, que agora aparece a dar voz e protagonismo aos incumpridores, principais responsáveis pela manutenção desses números negros.
Que a ACT continue a desempenhar o seu papel e que os agricultores e horticultores cumpridores lesados sejam indemnizados e apoiados o mais rapidamente possível. Quanto aos outros, jogaram... e perderam. Mas não se pode ganhar sempre, sobretudo quando se aposta na impunidade e o que está em causa é o dinheiro de todos nós.
E se é verdade que temos de melhorar continuamente na prevenção das catástrofes naturais, não é menos verdade que temos igual obrigação de nos prevenirmos contra os habituais oportunistas que delas tentam tirar partido indevido.
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