sábado, 12 de fevereiro de 2011

Moção de Censura... a quem?

O Francisco Anacleto está aflito.
Cada vez mais lhe é difícil conciliar a "esquerda caviar" na qual se sente como peixe (talvez esturjão) na água, com as vagas de esquerda "torresmos embrulhados em papel de seda" que contra ele arremetem no seu Bloco.
Era-lhe muito difícil explicar o apoio ao candidato Alegre que aparentemente até parecia estar nos antípodas da linha dominante (se é que isso existe) no Bloco. Caçador inveterado, aficionado confesso de touradas, defensor da pluralidade sindical, e acima de tudo (brrrrr!!!, Credo, cruzes, canhoto!) militante do Partido Socialista! Mas tinha um milhão de votos! (pensava Anacleto!)
Por isso, como bom educador da classe operária, num trejeito estalinista (tanto mais de louvar quanto vindo de um ex-Leonino Trotsky) decidiu o apoio em bloco, do Bloco, ao candidato Alegre!
E já se imaginava, bucólico, a passear nos jardins de Belém como Chefe da Casa Civil. Aliás trataria logo de acabar com a Casa Militar.
Mas o povo, sempre o mesmo ingrato, não quis assim. E o Anacleto do Alegre se fez Triste.
Anacleto, no seu polo Lacoste genuíno, mas a que mandou coser o crocodilo ao contrário para parecer de contrafacção, pensou rápido...
Havia que explorar o ter ficado à frente do candidato do PC, aquele senhor que ninguém conhecia, nem ele próprio. Podia ser que o 2º lugar ainda desse acesso às competições europeias...
Mas entretanto, a Praça Tahrir do Bloco começava a encher-se de berloquistas da mais revolucionária cepa, verdadeiro carrascão da revolução, inimigos jurados da Cabernet-Sauvignon do Anacleto, mesmo que misturada com "Rabo de Ovelha" (e de Carneiro porque no Bloco são muito criteriosos nisto do género) e com um cheirinho de Trincadeira na Direita.
E foi assim que, Mubarakiantemente, Francisco Anacleto, após ouvir todos aqueles em quem confia no Bloco (frente ao espelho com que se barbeia todas as manhãs) sacou da sua cartola (mascarada de boina basca) o seu Coelho Continental (para não confundir com o madeirense): A Moção de Censura!
A opção era clara: Ou avançava com esta Moção de Censura ao Governo, já que não pode avançar com uma  Moção de Censura ao povo que não percebeu a sua escolha, que não se deixou guiar por quem está naturalmente fadado para o fazer, ou seria ele próprio censurado no seu mais que nunca partido.
Era a forma de Anacleto fazer soar no seu partido as "proletárias vovuzelas" do toque a Reunir (em torno dele, claro).
Ou seja e agora falando a sério, esta Moção de Censura é uma mera inciativa para consumo interno do Bloco, uma "prova de vida à esquerda" de Francisco Anacleto, tentando antecipar-se aqueles que no seu Partido estão a preparar-se para partir a Louçã toda!
A não ser que...
A não ser que os sectores mais "bloqueados" do PSD, com os principais inimigos de Passos Coelho (quiçá com Cavaco) à cabeça, cedam  à tentação de subir a todo o custo para o combóio do poder e decidam apoiar a moção. (A alternativa, meramente académica, seria o golpe de teatro do próprio PS viabilizar a moção e dizer-lhes que já que têm tantas ideias então que tomem  as rédeas do poder e mostrem a verdadeira cara, o que, obviamente,  não irá acontecer).
Nesse caso, o Bloco acabaria por cumprir aquilo que muitos consideram ser o seu único papel histórico, o de ser o PRD do século XXI.
A memória dos peixinhos vermelhos, dizem os biólogos, é de 6 segundos. A do Bloco, digo eu, não ultrapassa uma legislatura.
No passado vociferaram contra os governos de Guterres, a que acusaram de serem governos de direita, cuja queda só traria vantagens ao país e aos trabalhadores. Seguiu-se-lhe Santana Lopes e aí sim  viram o que era um governo de direita e as suas políticas. Claro que até hoje nenhum bloquista me conseguiu dar um único exemplo de alguma melhoria trazida pelo governo Santana Lopes aos trabalhadores, de que o Bloco se afirma, reafirma e clama e proclama ser o mais lídimo defensor!
O mesmo se irá passar se o Governo do Partido Socialista for substituído por um governo do PSD, pois a receita de Passos Coelho é clara e ele não a esconde: liberalização dos despedimentos individuais, despedimentos e mais cortes salariais na Função Pública, cortes salariais na privada, ataque frontal à Escola Pública, despedimento de professores, fim do SNS, etc, etc, enfim, a agenda liberal em todo o seu esplendor.
É esta a caixa de Pandora que, para salvar o seu pescoço, Francisco Anacleto está disposto a abrir, o que, para muitos sectores do Bloco, adeptos confessos do "quanto pior melhor", é perfeitamente legítimo.
Ou então é só infantilidade política.




segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Políticos anti-político? Ou mero populismo?

Vira na volta regresso ao meu blog. Desta vez a propósito da pretensa manifestação contra os políticos que está a ser convocada através das redes sociais, nomeadamente do facebook.
Declaro desde já que acho no mínimo bizarra esta ideia. Há menos de um mês os portugueses foram chamados a eleger um Presidente da República. Mais de metade pereferiu não mexer o cú de casa e perder 30 minutos do seu precioso tempo em frente à TV a ir depositar na urna o seu desejo expresso, o seu mandato pessoal, a quem nos iria governar. E não foi por falta de alternativas. Havia candidatos para todos os gostos! Não houve foi espírito cidadão para ir votar.
O que não espanta, tanto e tão despudoradamente se tem investido no estiolar da cidadania, com orgãos de comunicação e analistas e "paineleiros" à frente, esforçando-se por elevar a "opinião pública" o que não passa de "opinião publicada".
E agora, a reboque das manifestações no norte de África, onde os povos não poderiam manifestar-se de outra forma já que não vivem em democracia, não têm eleições livres nem direito de expressão, surgem uns "anónimos" a convocarem uma manifestação "contra os políticos"...
Em primeiro lugar devo dizer que no mínimo é de desconfiar de quem pretende começar uma carreira de político em luta contra os políticos.
Depois desconfio de anónimos. Em democracia as pessoas dão a cara. Pelo menos aqueles que a têm, o que parece não ser o caso.
Acresce que considero que o populismo não é mais que o escadote que eleva os ditadores ao poder.
E que se há coisa que me tira do sério é o oportunismo descabelado daqueles que não tendo votado se arrogam o direito de questionar as escolhas de quem cumpriu o seu dever cívico. Numa linguagem clubística (aparentemente a única que muitos deles perceberão), é o mesmo que, sem pagar as quotas do clube querer arrogar-se o direito de votar para a eleição do Pesidente, ou até candidatar-se a Presidente do clube!
Sócrates, Cavaco, Passos Coelho, Portas, Louçã, Jerónimo, etc, podem não ser os melhores políticos mas não tomaram o poder dos seus cargos ou dos seus partidos. Foram para eles eleitos. Estão legitimados!
Não votei em Cavaco. Mas desde dia 23 ele é o meu Presidente da República, até novas eleições e não questiono a sua legitimidade.
Quem não gosta, que crie outros partidos, ou lute dentro dos que existem.  Mas que vá a votos, que se sujeite a um sufrágio real e não apenas o dos decibeis de uma manifestação, o da vozearia de uma turbamulta que, mesmo numerosa, não representará senão uma ínfima minoria do povo português.
Quer-se mesmo saber o que pensa o povo? Torne-se obrigatória a participação nos actos eleitorais. Não é um dever cívico pagar os impostos? Não era um dever cívico cumprir o serviço militar obrigatório? Onde está a violência de se obrigar um cidadão a exprimir a sua vontade? Não é sequer obrigado a votar em ninguém. Pode votar em branco, ou nulo. Mas DEVE votar!
Deixem-se os comentadores, analistas e outros artistas, de tretas. A nossa abstenção não revela descontentamento, revela laxismo, comodismo, preguiça!
Bastava passarem o dia das eleições para um dia de semana com dispensa de meio dia para quem apresentasse o comprovativo de ter votado para ver como a abstenção diminuia a pique!
E a prova de que a abstenção não é um cartão amarelo aos políticos é o facto de até quando somos chamados a pronunciarmo-nos sobre aspectos que resultam das mais profundas das nossas convicções íntimas e em que até os políticos estão divididos, a maioria dos portugueses declina essa responsabilidade. Veja-se o caso dos Referendos que nunca conseguiram 50% de votos. A abstenção é, isso sim, um cartão amarelo à cidadania. E a situação não se resolve com "uma invasão de campo".
Salazar só governou 48 anos porque a maioria dos portugueses sentia-se confortável a não ter de pensar nem decidir. O  Botas fazia-o por eles.
E no fundo o 28 de Maio começou por ser um pronunciamento contra os políticos.
Por isso não vou e apelo a todos para não irem a esta nova versão da "Maioria Silenciosa" que agora se mascara de "Maioria Barulhenta".
E deixo uma pergunta incómoda: Por que razão a manifestação é contra os políticos e não contra quem de facto nos colocou na crise em que estamos, os banqueiros e os especuladores? Ou será que esses também vão estar na manifestação? Ou por detrás dela?

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O PSD E OS SINDICATOS

Há muito que aqui não escrevia, mas há alturas em que é impossível não fazer nada, sob pena de cumplicidade.
Antes de mais queria deixar claro que tenho, entre os TSDs (Trabalhadores Social-Democratas) muitos amigos, para além de outras pessoas que, apesar de não manter com elas relações de amizade pessoal, muito admiro e respeito.
Não gostaria, por isso, de estar na pele deles nos tempos que correm.
Na realidade torna-se cada vez mais claro que com a subida ao poder de Passos Coelho abriu a caça aos sindicalistas no PSD.
A recente proposta de revisão constitucional por ele apresentada e que a maioria da comunicação social centrou quase só na questão dos poderes presidenciais, tinha contornos muito mais graves que, no limite, conduziriam ao fim da concertação social.
Claro que ele, ao ver o resultado prático das suas intenções até aí inconfessadas (tivesse ele apresentado os seus planos em toda a sua crueza no Congresso e quero acreditar que não teria ganho a liderança do Partido) imediatamente veio dizer que era apenas uma "Proposta". Pois... A proposta de maior ataque ao Estado Social a que se assistiu após o 25 de Abril.
Compreende-se a incomodidade dos TSDs. Estranha-se o seu silêncio.
E mais se estranha ainda o silêncio perante a prática que aos poucos se vem instalando na estratégia do PSD na sua relação com os sindicatos.
De início o PSD, então ainda PPD, esteve na rua, juntamente com os seus militantes sindicalistas, naquela que foi uma das batalhas decisivas pela democracia em Portugal, a luta contra a unicidade sindical na lei, contra o modelo soviético de "sindicalismo" dependente do "Partidão".
A batalha foi ganha. O PSD, com toda a justiça, colheu a sua parte de louros nessa vitória e os seus militantes sindicalistas, quase todos orgtanizados nos TSDs, na sua grande maioria engrossaram os sindicatos democráticos, ajudando a criar e integrando a Direcção da UGT, da qual aliás sempre detiveram a Presidência.
E durante muitos anos o PSD dividia os sindicatos em 2 categorias: de um lado os sindicatos democráticos, aqueles que recusavam o modelo de correia de transmissão do PCP e que reconheciam o direito à tendência e a liberdade de expressão dentro do sindicato, com respeito pelas minorias, e do outro lado os sindicatos não democráticos.
No entanto, nos últimos anos, sobretudo após a subida de Manuela Ferreira Leite à liderança do PSD começou a verificar-se um fenómeno estranho: Para o PSD os sindicatos continuaram a estar divididos em 2 categorias, mas já não em função da sua orgânica e prática sindical democrática. O que passou a distinguir os sindicatos "bons" dos sindicatos "maus" para o PSD foi o facto de, em determinado momento, poderem ser "aliados" na sua luta contra o PS e os seus governos.
E com esta (des)orientação começou a assistir-se a episódios no mínimo bizarros.
Por exemplo, durante a luta do PSD contra a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, o PSD elevou à categoria de quase herói nacional o líder da FENPROF, o dirigente comunista Mário Nogueira. O mesmo que se tinha distinguido anos antes na luta contra o modelo de avaliação da então ministra da Educação do governo do PSD... a Dra. Manuela Ferreira Leite. E é bom que se note que Mário Nogueira não mudou de práticas, nem de pensamento. Quem mudou foi o PSD. Aliás nem sequer mudou a atitude de Mário Nogueira e da Fenprof perante os sindicalistas democratas, muitos deles TSDs, que continuam a ser maltratados por ele e pelos seus apaniguados perante o "olhar distraído para o lado" do PSD.
E daí para a frente foi o extremar desta nova atittude. Para a direcção do PSD passaram a existir como sindicatos apenas aqueles que se distinguem  na luta contra o governo socialista, na acção reivindicativa de rua, nas manifestações, nas acções que tantas vezes arrastam os trabalhadores para becos sem saída. Os outros, aqueles que continuam empenhados num sindicalismo responsável, que busca soluções e saídas através do diálogo e da concertação, passaram a ser considerados pela direcção do PSD como "nãodicatos". E pouco lhe interessa o trabalho sério que muitos e dedicados TSDs desenvolvem nessas estruturas.
É a estratégia do "Quanto Pior, Melhor!"
E, deliberadamente ou não, a sua estratégia converge com a do PCP. O que é um perigo, sobretudo para a democracia.
Porque o PCP não pode ter outra estratégia pois sabe que nunca alcançará o poder por via democrática, por eleições.
Mas o PSD aspira, e legitimamente, a voltar ao poder, por via legal, por eleições. E quando isso acontecer terá um país para governar, num quadro democrático, onde os sindicatos, espera-se, terão um lugar importante no desenvolvimento do diálogo social. E quem serão os interlocutores sindicais do PSD nessa altura? Os sindicatos do PCP que eles agora "endeusam" e que, obviamente, continuarão na mesma senda que seguem hoje?
A convergência com o PCP atinge mesmo contornos ainda mais perigosos.
Seria bom refrescar algumas memórias e lembrar que, logo em 74 e 75, o PCP, consciente de que nunca jogaria lealmente o jogo democrático, após ter percebido que nunca subiria ao poder por eleições livres e democráticas, tratou de pôr em prática  a teoria do "entrismo", bem definida por alguns dos mais célebres teóricos leninistas. Tratava-se de infiltrar, nos Ministérios mais importantes para os seus objectivos, muitos militantes comunistas que, ao longo dos anos iriam garantir um controlo efectivo de muito do quotidiano desses mesmos Ministérios. A série de humor inglesa "Sim senhor Ministro" mostrou-nos, com um humor inteligente, que quem manda verdadeiramente nos Ministérios não são Ministros nem Secretários de Estado, mas sim os "Sir Humphreys" desses ministérios. Ora para o PCP, na impossibilidade de colocarem Ministros ou Secretários de Estado tornava-se urgente infiltrar muitos potenciais "aparelhistas" nos "aparelhos" dos Ministérios.
Foi o que fez nalguns Ministérios "mais permeáveis" e escolhidos a dedo por razões estratégicas: Educação, Saúde, Trabalho, Justiça.
Não adianta negar. Todos os conhecemos.
E todos conhecemos, também, os sindicatos que se têm distinguido num "corporativismo" eivado de espírito "de casta". Nalguns deles têm-se distinguido exactamente alguns desses "aparelhistas". O que não pode espantar ninguém.
É bem sabido que um estalinista "não muda de ideias, apenas muda de patrão".
Já me espanta que o PSD, ao arrepio da sua história e prática, aceite ser o novo patrão desses  "trânsfugas".
Veja-se o recente exemplo do Sindicato dos Magistrados e da atitude do PSD.
É um dos sindicatos mais classistas que se conhece.
A sua história é mais rechedada de "factos políticos" que de "fenómenos sindicais".
Não se tem distinguido pela democreatização de coisa nenhuma.
Tem-se calado perante a "judicialização" da política em Portugal.
Não se tem empenhado na proposta de soluções práticas para acabar com os atrasos na justiça ou qualquer outra das muitas chagas que afectam a justiça em Portugal.
Ora é a este sindicato que a Direcção do PSD surge a tecer loas e a "defender", não se sabe de quê nem de quem, apenas por este, numa atitude de parasitismo dos factos políticos a que há muito nos habituou, vir tomar uma posição (mais uma vez política e não sindical) sobre o caso Freeport.
Começa a ficar claro que para esta direcção do PSD "Vale tudo, ATÉ tirar olhos!".
Será que entre os meus amigos TSDs, sobretudo entre os mais antigos, entre aqueles que se empenharam a sério na luta sindical, velhos e corajosos activistas sindicais, não haverá quem tente explicar a estes "jovens turcos" que tomaram a direcção do PSD qual a verdadeira natureza e face deste sindicato e de outros afins? Nem quem lhes explique qual a atitude que este e outros sindicatos tomaram no passado quando estavam em causa dirigentes do PSD, por exemplo Leonor Beleza, ou João de Deus Pinheiro, (para não falar do próprio Sá Carneiro)?
É que com esta política do "Vale tudo até tirar olhos", se ninguém lhos abre, arrisca-se a, se e quando alcançar o poder, ver os seus pretensos aliados de hoje tirarem-lhe os olhos à primeira oportunidade.
E ele merece.
Só que, em  nome dos superiores interesses da democracia e da sua imprescindível estabilidade, preferia que isso não acontecesse.
Assim como, em nome desses mesmos interesses, não gostaria que os TSD perdessem o seu lugar e papel no seio do PSD.


domingo, 17 de janeiro de 2010

CANDIDATO DE CAUSAS OU DE FACTOS CONSUMADOS?

Admito que o anúncio da candidatura de Manuel Alegre não me surpreendeu. Era mesmo previsível. Em vez de se mostrar disponível para um debate à esquerda para a escolha de um candidato consensual e capaz de derrotar uma candidatura de direita, Alegre, com a insuportável arrogância intelectual que o tem caracterizado e quiçá crente de uma qualquer missão divina de "Salvador" da esquerda ou, talvez mais apropriadamente, "Pai dos povos de esquerda", apresenta a sua candidatura! Encheu a banheira de água quente, agitou-a com a mão e pretende ter sido criada a vaga de fundo que o levará a Belém...
Curiosa é a reacção de quem se diz à esquerda do PS. Desde logo o BE. É claro que o BE, aquele partido impoluto do jesuítico Louçã se precipita no apoio a Alegre! Curioso como o tradicionalista Alegre, adepto confesso da caça, aficionado declarado de touradas, profundamente conservador em tantas outras coisas, vai ser o candidato do BE! O PC, mesmo que ainda não o tenha dito, vai inevitavelmente apoiar Alegre, vai apoiar quem sempre se opôs à Reforma Agrária e a tantas outras políticas do PCP. E não é por esquecimento, até porque o PCP tem uma memória de elefante, sobretudo quando toca a eleições, tema em que costumam acabar sempre "de trombas".
A resposta é simples: É que ambos sabem que Alegre até poderá ser o candidato apoiado pelo PS, mas Alegre nunca será O candidato do PS!
E Alegre também sabe isso. Por isso quer garantir ser o candidato à esquerda, mesmo que para isso não seja o candidato da esquerda, pelo menos da esquerda moderna e democrática.
Alegre demonstrou ter medo. Medo de não ser o escolhido pela esquerda. Medo de que muitos ainda se lembrem de como dividiu a esquerda nas últimas presidenciais. Medo de que o argumento arrogante e um pouco repetitivo dos números da última eleição tenham tanto peso e significado como os obtidos por Otelo nas presidenciais a que concorreu. Medo de que o Partido Socialista e os seus militantes e apoiantes se inclinassem para outra solução para federar a esquerda. Por isso optou, como de costume, pelo facto consumado: "Eu já cá estou. A esquerda já está salva! " O pior que lhe pode suceder é alguém ainda se lembrar da sua poesia  e aparecer "alguém que diz não!" Mas Alegre sabe que o que está em jogo é muito elevado. Sabe que a esquerda não pode permitir mais um mandato da direita em Belém, sobretudo quando o actual inquilino se arroga como líder da oposição, por manifesta incapacidade da líder partidária da mesma.
Alegre julga poder vir a ser o líder da esquerda, através de Belém. Só que, ao contrário da oposição, a esquerda no poder tem líder. E uma das grandes mais-valias da esquerda em Belém, por todos reconhecida e bem protagonizada quer por Mário Soares, quer por Jorge Sampaio, foi a despartidarização do cargo, a não ingerência na esfera do Governo.
Talvez a ideia presidencial de Alegre seja a de um "Cavaco de esquerda". Não é a minha.
E até admito ter de vir a votar nele. Mas apenas se a esquerda democrática ceder à chantagem da política do "facto consumado" e se a eleição de um candidato de direita se perfilar no horizonte.
E nesse caso será sempre um voto útil e não um voto do coração.
Porque a esquerda não se proclama, vive-se do e no coração!

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

OS PILATOS DA ECONOMIA

A crise que atravessamos tem causado o fecho de muitas empresas e o desaparecimento de inúmeros empregos. No entanto, e a um ritmo semelhante, é responsável pelo surgimento de inúmeros Pilatos, que à semelhança do Perfeito romano apenas se destacam pela ligeireza com que dela lavam as mãos, como se de meros observadores externos se tratassem, quando na realidade são dela actores principais.

Ainda ontem Pedro Ferraz da Costa, antigo "patrão dos patrões" na CIP e que curiosamente tem abandonado o quase anonimato da criação de puros-sangues lusitanos a que se tinha remetido a medida que o mandato de VanZeller se aproximou dio fim, veio a público dizer que a economia portuguesa destruiu mais emprego e empresas que qualquer outro país da UE. Parece-me um "culpado" demasiado vago... E não perde tempo em propor um remédio, o mais previsível em Faraz da Costa: contenção salarial. Mas com pias intenções, claro... Não a de manter o nível de lucro dos (ou de alguns) empresários, mas sim a de diminuir o consumo.
Não quero sequer comentar esta estranha estratégia de retomar a economia através da diminuição do consumo... Quero apenas referir que Ferraz da Costa tinha obrigação de saber que muitos fechos de empresas e perdas de postos de trabalho não se devem, pelo menos fundamentalmente, à crise mas sim ao oportunismo e falta de escrúpulos de muitos patrões que se têm valido das suas "costas largas" para ilegalmente procederem ao fecho das empresas ou ao despedimento de trabalhadores.
Os números divulgados pela ACT são disso bem claros e Ferraz da Costa deveria ter a obrigação profissional de os conhecer e a seriedade intelectual de os referir.
Na mesma ocasião sobe de novo à ribalta João Salgueiro, o antigo presidente da Associação Portuguesa de Bancos e a mais recente visita assídua de Belém, que veio dizer que os portugueses estão a viver acima das suas possibilidades, esquecendo-se, também ele, de alguns elementos fundamentais para a compreensão do fenómeno, nomeadamente a facilidade com que a Banca, a que já presidiu, cria necessidades de consumo artificiais, concede crédito para elas e vai aumentando os plafonds desse mesmo crédito até aos limites do irreversível. Isto para não falar da nunca convenientemente explicada razão pela qual, em plena crise os bancos mantêm os seus elevados lucros quase inalterados, quando não mesmo os aumentam.
E continuou dizendo que, ou aumentamos a produtividade ou a alternativa será emigrar. Só não diz é para onde. Mas eu dou uma ajuda a decifrar o enigma. Atendendo a que a crise é global e afecta também os restantes países de destino habitual da emigração portugesa, restam os países para onde os apaniguados de Ferraz da Costa e João Salgueiro deslocalizam as empresas, ou seja, os países sem direitos sociais ou laborais.

Em suma, custa ver tantos Pilatos a lavarem as mãos enquanto as empresas e os trabalhadores portugueses são crucificados, num culto perverso ao Deus ganância.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

TRAGÉDIAS NATURAIS E OPORTUNISMOS HABITUAIS


Mais uma vez a natureza mostrou-se inclemente para com os agricultores, desta vez da região Oeste. A chuva, o granizo e sobretudo o vento, destruiram colheitas e estufas.

Como quase sempre acontece, os agricultores, enquanto esperam que o processo burocrático associado aos seguros (daqueles que os tinham), os indemnize dos prejuízos sofridos, que nalguns casos foram bastante elevados, deitaram mãos à obra de reconstrução das estufas, tentando salvar o que ainda pudesse ser salvo.

Até aqui tudo normal. Ao fim e ao cabo é a luta que desde o Neolítico o homem trava com a Natureza para dela extraír os seus frutos. Geralmente ganha, algumas vezes perde. Normalmente a comunicação social retrata e relata em grande pormenor a destruição, até porque todos sabem que "a tragédia vende", depois aproveita para umas alfinetadas aos governos, sejam eles quais forem, a pretexto dos atrasos na distribuição dos subsídios e, como entretanto outras tragédias ocorrem, a notícia acaba por se perder e as vítimas de ontem, após os seus "2 minutos" de celebridade, caiem no esquecimento dos media.

Só que neste caso algo de diferente se passou. Desde logo porque começámos a ser metralhados por notícias que acusavam a ACT de estar a impedir a reconstrução das estufas e de dificultar a recuperação no Oeste.

Acusação grave, para um organismo do Estado, com as responsabilidades da ACT. Acusação gratuita, reproduzida sem qualquer preocupação pela verdade por parte de alguma comunicação social totalmente irresponsável. O que se passa na realidade é bem distinto. O que os funcionários da ACT fizeram foi apenas fazer cumprir a lei e impedir que essa mesma reconstrução se verificasse em total desrespeito pelas mais elementares regras de Segurança e Saúde no Trabalho.

E em boa hora o fizeram. Foi graças a essa acção que nalguns casos se impediu que aos danos materiais causados pela natureza se juntassem danos pessoais causados pela negligência do homem.

Há também que dizer-se que as situações relatadas se passaram com uma minoria de horticultores. Mas foi exactamente essa minoria que por obra e graça de alguma comunicação social irresponsável e que não esconde o combate a este Governo, se viu quase transformada em maioria!.

Chegou-se ao cúmulo de, num jornal regional, se referir um horticultor que teria sido intimado pelos inspectores da ACT a apresentar documentação que, segundo ele, teria desaparecido com o temporal que provocou a destruição das estufas. E quais eram esses documentos? A notícia enumera-os: o mapa do horário de trabalho, o relatório anual de formação dos trabalhadores e o relatório anual de Segurança e Higiene no Trabalho. Se não fosse um caso tão sério seria caricato. O que tem a destruição das estufas a ver com o desaparecimento destes documentos? Acaso o mapa de horário de trabalho está afixado numa folha de couve dentro da estufa? O relatório anual de formação é arquivado num canteiro entre os morangos e as alfaces? E o relatório anual de SHT está debaixo do vaso dos coentros? O jornalista (?) não deveria investigar antes de escrever? Ou sabe muito bem o que escreve mas os intuitos são outros?

Parece-me que neste caso a intempérie para além de destruir estufas e colheitas veio também pôr a nu situações de incumprimento que de outra forma e atendendo aos exíguos meios humanos da ACT dificilmente seriam detectadas.

Curiosamente é a mesma comunicação social que vocifera contra as elevadas taxas de sinistralidade laboral existentes no nosso país e que acusa o Governo de pouco fazer para as combater, que agora aparece a dar voz e protagonismo aos incumpridores, principais responsáveis pela  manutenção desses números negros.

Que a ACT continue a desempenhar o seu papel e que os agricultores e horticultores cumpridores lesados sejam indemnizados e apoiados o mais rapidamente possível. Quanto aos outros, jogaram... e perderam. Mas não se pode ganhar sempre, sobretudo quando se aposta na impunidade e o que está em causa é o dinheiro de todos nós.

E se é verdade que temos de melhorar continuamente na prevenção das catástrofes naturais, não é menos verdade que temos igual obrigação de nos prevenirmos contra os habituais oportunistas que delas tentam tirar partido indevido.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

AMINATU, UMA NOVA SUU KYI???


As mais recentes notícias vêm confirmar o que muitos já esperavam. Aminatu Haidar parece estar sob prisão domiciliária em El Aaiún e apenas pode contactar os familiares mais próximos.
Ou seja, dia a dia cresce a semelhança entre a sua situação e a da activista pela democracia na Birmânia Aang Suu Kyi.
Só que a situação de Suu Kyi arrasta-se há cerca de 20 anos.
Na altura, os países ocidentais tentaram "assobiar para o lado", e até mesmo ocultar o facto das suas opiniões públicas... A guerra fria ainda não tinha terminado e havia "boas desculpas", nomeadamente a distância a que tudo se estava a passar, e o facto de os ditadores militares serem geralmente aliados naturais na luta contra o comunismo (pelo menos até figurões como Chavez virem provar exactamente o contrário). A verdade é que as diplomacias ocidentais acordaram tarde para a inacreditável e inaceitável situação de Suu Kyi.
E deste vez qual vai ser a desculpa para fazer de conta que não se vê a situação da activista sahaurí? Será a Real Politik? É que, francamente, a distância não pode ser, já que Marrocos está tão perto que os seus imigrantes clandestinos até nos chegam em barcos a remos. Vamos permitir que a História se repita? Os nossos Governos tão (justamente) preocupados com a imigração clandestina, não perceberão de uma vez por todas que a arma mais eficaz para a combater é promover o desenvolvimento económico e social dos países de origem dessa imigração e que uma condição sine qua non para esse desenvolvimento é a instauração de regimes democráticos?
Uma coisa é certa, lá por Aminatu ser uma activista sahauri (e que belo exemplo para as mulheres islâmicas que lutam pela sua dignidade), escusa o rei de Marrocos de nos atirar areia para os olhos! Aminatu é uma prisioneira política, uma prisioneira de consciência de um regime totalitário.