quinta-feira, 29 de outubro de 2009

GRITO DE ALERTA

É óbvio que o Primeiro-Ministgro não lê este blog.

A nova ministra do Trabalho também não.

Aliás provavelmente ninguém lê este blog.

Mas não faz mal, leio-o eu e poderei voltar a ele sempre que quiser, num exercício de recordação que por vezes é necessário.

Por isso posso escrever aqui coisas que, mesmo que ninguém leia ou comente, me servirão mais tarde como memória futura.

No último post elogiei a composição ministerial do Governo.

Hoje foi tornada pública a lista dos Secretários de Estado.

Merece-me no mínimo um  grito de alerta.

Não se faz política de esquerda com gente que não é de esquerda.

Não pode protagonizar o diálogo quem não o pratica nem dele faz um exercício quotidiano.

Não se pode pôr a guardar a floresta quem no passado já lhe ateou fogo.

Em política é muito perigoso passar a ideia de que "o crime compensa".

Acho que nem preciso de dizer em quem estou a pensar.

Num governo minoritário os erros de casting pagam-se caros.

Num passado bem recente houve ministros que foram totalmente massacrados por inépcia ou por arrogância, ou por incompetência, ou por tudo isso junto, de secretários de Estado. Esperemos que o filme não se repita!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

UM GOVERNO À ALTURA

No meu último post expus as linhas gerais do que julgava serem os critérios a ter em conta na escolha do novo elenco governativo por parte de José Sócrates.
Confesso que excedeu as minhas melhores expectativas.
É um governo de diálogo mas, ao mesmo tempo, um governo claramente alinhado com um ideário social, um governo da esquerda moderna e democrática, um governo com sensibilidade e responsabilidade.
José Sócrates, felizmente, não cedeu à tentação fácil de fazer umas modificações meramente cosméticas.
Os ministros que "tinham" de ficar, pela sua competência, pela sua "tarimba" política e pelo seu claro alinhamento por uma política de esquerda e com sensibilidade social, ficaram. Foi o caso de Vieira da Silva, que transita para a nevrálgica pasta da economia que, pelo menos aparentemente, se aproxima, em importância, da das finanças. Teixeira dos Santos, um dos obreiros, juntamente com Vieira da Silva, da resistência das nossas endemicamente frageis finanças à fase mais crítica da crise internacional que não nos poupou, Ana Jorge, responsável pelo regresso ao clima de diálogo na saúde, pela sobrevivência do SNS e pela eficácia na resposta à pandemia de Gripe A. Santos Silva. o homem  dos combates de esquerda, mantém-se, para desespero dos analistas da direita que bem gostariam de ver o seu desaparecimento de cena como um sinal inequívoco da cedência de Sócrates à pressão externa e à negociação casuística e a qualquer preço de apoios pontuais no Parlamento. É no entanto um caso que vou esperar para ver. O meio castrense tem um código muito próprio, uma linguagem e timings por vezes difíceis de entender por quem está de fora. A frontalidade e coragem política de Santos Silva podem ser positivamente apreciadas pelos militares. A sua irredutibilidade e aparente pouca abertura para aceitar as "especificidades" e compreender a hierarquia de "valores" dos militares pode ser um factor de conflito. Veremos o que o tempo e alguns dossiers mais "quentes", como o dos submarinos, nos reserva.
Saiem os ministros que, independentemente do seu valor, constituiam um obstáculo ao diálogo, fruto de um exacerbar de crispações que, em devido tempo e por vezes por manifesta inépcia de secretários de estado e outras segundas linhas, criaram situações praticamente irreversíveis de conflitualidade. Foi o caso de Maria de Lurdes Rodrigues, ou de Jaime Silva, ou mesmo de Alberto Costa.
Há entradas extremamente positivas: a de Isabel Alçada para a educação por exemplo (espero que seja editada daqui a uns anos "Uma Aventura no Governo", já que nessa série há sempre finais felizes e uma mensagem muito positiva). Julgo ser alguém com capacidade para voltar a ouvir os professores e com eles negociar, num clima de diálogo que não revele demissão mas também não seja pautado pela arrogância e autismo. E para isso espera-se que conte com secretários de estado à altura.
Ou a de Alberto Martins, habituado à negociação parlamentar e por ela reconhecido. Um homem cujo código genético de esquerda é bem visível, mas para quem o diálogo não é apenas "uma forma de entreter", um mero exercício de retórica parlamentar, mas uma via para resultados e progressos.
Também a entrada de Gabriela Canavilhas é um facto notável. Num país onde poucos falam de cultura e menos ainda "a fazem", Gabriela Canavilhas está entre estes últimos. Veja-se o excelente trabalho que está a protagonizar nos Açores...
Mas o grande trunfo, a grande novidade deste governo foi, sem dúvida, a nomeação de Helena André para o Trabalho e Segurança Social.
Para a maioria será uma desconhecida. Mas para a maioria dos que a conhecem é uma escolha de mestre, uma nomeação mais que merecida, uma aposta num modelo verdadeiramente social de governação, a mais clara opção de esquerda deste governo.
Em Bruxelas há muitos anos, era a mais que provável futura secretária-geral da Confederação Europeia de Sindicatos, da qual é hoje vice-secretária-geral, tendo sido o nome mais votado no último Congresso da Confederação. E essa votação corresponde a um reconhecimento do seu valor, quer técnico quer intelectual, quer moral, que transcende em muito as fronteiras do mundo sindical.
Entre outras coisas foi ela que chefiou a delegação sindical às negociações do diálogo social europeu em Bruxelas, com a confederação patronal europeia, que culminaram na assinatura de acordos históricos como sejam o do teletrabalho, o do stress  no local de trabalho, ou o da violência no local de trabalho.
Esteve sempre em todos os grandes combates dos últimos anos do movimento sindical europeu e mundial. Sempre com uma postura de diálogo, extremamente séria mas sem abdicar dos princípios.
É por isso reconhecida quer, obviamente, pelo movimento sindical, quer também pelos governos dos Estados-membros, pela Comissão Europeia e, pasme-se, pelo patronato europeu representado na Eurobusiness.
São por isso ridículas as afirmações de Van Zeller ao afirmar que a nomeação de um sindicalista para o governo faz-nos regressar ao PREC! É o tipo de afirmações que a sua confederação, a CIP nunca se atreveria a fazer em Bruxelas mas faz aqui, para consumo interno dos sectores mais reaccionários de um patronato que a CIP teme perder. Aliás está na linha de alguma actuação da CIP que, em Bruxelas, assina acordos como os do diálogo social que anteriormente referi, e depois aqui em Portugal não os implementa. É lamentável. Mas na linha e com o valor relativo de quem as profere.
Como lamentáveis foram algumas afirmações de Carvalho da Silva que, talvez pressionado pelos ortodoxos da CGTP e do PCP, lembrou a origem sindical de Helena André, a UGT, como se isso fosse um crime, escamoteando o facto de há mais de 10 anos ocupar cargos na CES e não na UGT, ocultando a realidade de, no desempenho desses cargos, Helena André ter sempre tratado as duas centrais sindicais portuguesas em pé de igualdade (coisa que em Bruxelas os PCs nunca fazem), e nunca se referindo às qualidades pessoais, técnicas e políticas de Helena André que Carvalho da Silva bem conhece.
Ainda por cima Carvalho da Silva acaba por "dar um tiro no pé" ao dar a entender que, pelo simples facto de vir do movimento sindical, Helena André não deveria integrar o elenco governativo. Isso é uma certidão de menoridade atribuída a todos os dirigentes e activistas sindicais por parte de quem se apresenta como o maior defensor do sindicalismo nacional.
Pode ser que um dia Carvalho da Silva seja confrontado com estas suas afirmações numa posição distinta. Perceberá aí a diferença entre dogma e valor.
E tenho a certeza de que nessa altura, os comentários de Helena André, se for chamada a fazê-los, se debruçarão mais sobre as qualidades de Carvalho da Silva do que sobre a sua origem ou sobre o percurso que encetou para chegar onde estiver nessa altura.
Em suma, para mim Helena André é A grande "aquisição" deste Governo e não precisou de se socorrer de quotas ou paridades para chegar onde chegou.
Assim a deixem fazer...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

PARIDADE OU EFICÁCIA?

Ouvi, com alguma preocupação, a notícia de que o Departamento das mulheres socialistas pretendia que o novo executivo respeitasse a regra da paridade, ou seja, 50% de homens e 50% de mulheres.
Parece-me tal ideia deslocada, bizarra e perigosa.
Considero fazer todo o sentido exigir o cumprimento de quotas, com tendência à obtenção da paridade total, no caso de orgãos de representação. (E mesmo assim a evolução dos tempos irá provavelmente levar-nos a uma situação em que a divisão estanque entre sexos se torne, se não discriminatória, pelo menos obsoleta).
Mas um Governo não é um orgão de representação. É um orgão executivo.
Mais que garantir que todos os grupos, extractos, sensibilidades, etc, estão nele representados, o que o país, e por maioria de razão, os apoiantes do Partido Socialista dele exigem é que governe bem.
Sejamos claros, a situação está longe de ser  favorável.
O país está mergulhado numa crise internacional, à qual o anterior governo do PS soube responder muito positivamente, mas muito há ainda a fazer até se poder dizer que "o pior já passou".
Ainda por cima o PS perdeu a maioria absoluta, sendo obrigado a governar numa situação que não se afigura nada fácil, sobretudo atendendo às características pouco responsáveis da oposição que temos.
O momento terá de ser marcado por um grande pragmatismo político.
Do novo Governo exige-se que governe bem, em diálogo q.b. mas sem se deixar amarrar pela indecisão.
Para isso terá de contar com os melhores, entre militantes socialistas e independentes disponíveis a colaborar.
Na prática o que quero dizer? Por exemplo, Ana Jorge tem forçosamente de continuar no governo, não por ser mulher, mas por ter feito um excelente trabalho à frente do Ministério da Saúde, conseguindo ultrapassar uma conflitualidade aparentemente insolúvel com o seu antecessor, e ainda por cima gerindo de forma superior a inesperada pandemia de Gripe A, potencialmente susceptível de aproveitamento político por parte dos sectores mais irresponsáveis da oposição.
Por outro lado, Maria de Lurdes Rodrigues não pode continuar no Governo, não por ser mulher, mas por esta nova etapa governativa exigir uma disponibilidade acrescida para o diálogo, disponibilidade essa que Maria de Lurdes não representou na última legislatura, quanto a mim mais por responsabilidade da sua equipa que por incapacidade sua, apesar da justeza da maioria das suas propostas.
Mas o mesmo se passa com os homens.
Vieira da Silva tem de permanecer no Governo, não por ser homem, mas por ser um dos políticos mais hábeis, competentes  e pragmáticos do Partido Socialista e ainda por cima ter uma imagem de seriedade acima de qualquer suspeita. Se, na actual crise, a nossa Segurança Social não colapsou, tal deve-se essencialmente à reforma que, em tempo, imprimiu à mesma. A mais elementar justiça obriga-me a reconhecer que essa reforma só foi possível graças ao sentido de responsabilidade da maioria dos parceiros sociais. No entanto todos concordarão que a ideia e o motor da reforma foi dele. E por isso terá de continuar no Governo, independentemente da pasta que ocupar.
Já Santos Silva não poderá continuar no governo, pelo menos na pasta que ocupa. Não por ser homem, mas porque a nova situação vai exigir uma nova atitude perante o Parlamento,. mais pragmática, mais elástica e quiçá menos "ideologicamente pura". Tal não retira em nada à qualidade e ao mérito de Santos Silva, e muito menos à sua generosa entrega ao ideário do Partido Socialista. Significa apenas que há que ter presente que "novos problemas exigem novas soluções e que para muitas das novas soluções há que encontrar novos protagonistas".
Numa metáfora futebolistica diria que ninguém duvida do mérito e da qualidade de Cristiano Ronaldo, mas ninguém perceberia, nem aceitaria, que o treinador o fizesse entrar em campo para substituir um defesa central.
Penso que as mulheres socialistas deveriam ter esta reflexão em atenção.
O ser de esquerda não é forçosamente o defender, de maneira cega, interesses particulares, sejam eles corporativos ou de outra ordem. Não porque os interesses corporativos sejam, por si só, negativos ou condenáveis. Bem pelo contrário. Geralmente são até muito meritórios e justificáveis. Até ao momento em que colidem com os superiores interesses do colectivo.
E acho que é o que acontece neste caso.
Sejamos claros, O próximo governo irá ser julgado pela qualidade das suas medidas, pelas consequências das mesmas, pelo seu efeito sobre a qualidade e as condições de vida e de trabalho das portuguesas e dos portugueses, e não pelo número de mulheres que dele fizerem parte.
Há que perceber que, mesmo com um governo maioritariamente constituído por mulheres, se as políticas forem más e as suas consequências negativas, as próprias mulheres portuguesas condená-lo-ão nas urnas.
O momento é de pragmatismo e não de finca-pés pretensamente ideológicos.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

ALIANÇAS COM O PCP?

Um amigo que muito prezo, escrevia recentemente no rescaldo das autárquicas, que a vitória de António Costa em Lisboa se devia, em grande medida, à decisão do PCP apelar internamente ao voto em António Costa. Nessa lógica chegava mesmo a sugerir que o PS deveria atribuir a presidência da AML à CDU.

Respeito a sua opinião, mas parece-me uma ideia no mínimo bizarra e que esquece a real natureza do PCP.
E não é por acaso que Santana Lopes também lançou essa atoarda na noite eleitoral.

Penso que não se pode confundir a atitude de muitos militantes comunistas com a direcção do PCP.

Entre os comunistas há muita gente genuina e generosamente de esquerda. Mas a direcção do PCP não o é!

Não gosto do epíteto, até porque me faz lembrar slogans do MRPP, mas a direcção do PCP é social-fascista.

Por vontade do PCP não haveria democracia parlamentar em Portugal. E fez tudo o que estava ao seu alcance para o impedir. Desde o cerco à Assembleia da República, sede da democracia parlamentar, até ao golpe de estado puro e duro.Pode ser considerado de esquerda um partido que assuma este comportamento?

Para os democratas, para a esquerda, o homem, os cidadãos, estão acima de tudo. Para o PCP o homem não conta. Apenas os desígnios do colectivo, leia-se da clique dirigente, contam.
E para o PCP o PS foi, é, e continuará a ser, o inimigo principal. Porque, como partido de esquerda, mesmo com erros e decisões por vezes infelizes, representa o que o PCP mais teme: uma esquerda moderna, com preocupações sociais, que equilibrou a segurança social, que salvou o Serviço Nacional de Saúde, que criou o tão atacado Rendimento Mínimo, que garante as liberdades, e tantas outras coisas
O PCP felizmente nunca esteve verdadeiramente no poder em Portugal. Teria sido um MPLA à europeia, ou um Pol Pot. Nem sequer um Chavez porque, tal como Salazar temia o lado populista do fascismo de Mussolini, também o PCP de Cunhal, Carvalhas, Jerónimo ou quem lhes suceder, teme o lado populista de ditaduras como a de Chavez ou Fidel. O seu modelo, e Bernardino Soares já o disse, é mais o modelo Coreia do Norte.
E é com este modelo que o PS deveria coligar-se? E entregar-lhe uma liderança como a da AML?
E a CGTP? Sugiro que se contem as greves organizadas pela CGTP em governos do PS e as greves organizadas pela CGTP em governos do PSD...
Verão como a CGTP sai à rua e promove paralizações 3 vezes mais  em governos do PS que em governos do PSD.
É que a CGTP não é só o Carvalho da Silva! É também o insuportável Nogueira, o Arménio Carlos, o Amável Alves, ainda o Dinis que liderou o cerco à Assembleia da República...
São os que atiram os trabalhadores para becos sem saída, fiéis ao princípio do "quanto pior, melhor!"  E ao pé desses, o Carvalho da Silva é quase um modelo de democrata... e que já percebeu que o seu futuro, se calhar, não passa pelo PCP. O sonho que em tempos acalentou de vir a liderar o PCP está agora totalmente estilhaçado, com a emergência de novos títeres como o Mário Nogueira...
Talvez Carvalho da Silva comece agora a equacionar coisas como uma hipotética candidatura a Belém daqui a vários anos... e para isso há que descolar do PCP. E para isso há que começar a apoiar, desde já, o PS. E até acredito que seja uma evolução genuína. Mas não é o PCP, c'os diabos!
António Costa ganhou APESAR do PCP e não graças ao PCP.
O que há a fazer não é recompensar a nomenklatura do PCP com lugares que não conquistou. É sim governar Lisboa com  uma política de esquerda, que prove a todos quantos votaram António Costa que tomaram a decisão correcta, que seja capaz de federar esses votos em torno do PS, contribuindo para solidificar as opções verdadeiramente de esquerda do PS e para isolar os gerontes e dirigentes comunistas.



quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O EXEMPLO DE MICHELLE

Todos conhecemos a célebre frase que diz que "Por detrás de cada grande homem está sempre uma grande mulher".
E isso, regra geral, não é um mero estereótipo.
Veja-se o caso de Michelle Obama.
Para além da sua indesmentível elegância, Michelle é uma mulher à altura de Barak, quer em termos profissionais, quer em termos de formação e atitude.
Veja-se, por exemplo, o que aconteceu recentemente na reunião do G20.
Michelle, que cumprimentou afectuosamente todos os restantes participantes e respectivos acompanhantes com um, ou dois, ou três beijos, consoante o hábito do país de origem, quando chegou a altura de cumprimentar o mafioso Berlusconni, e apesar da tentativa deste aproximar o seu focinho da cara de Michelle, esta manteve as distâncias e limitou-se a um frio aperto de mão.
As imagens seguintes são bem ilustrativas.



















Com esta atitude Michelle mostrou, com uma elegância e superioridade notáveis, como a primeira-dama dum país como os EUA pode não ser escrava do "politicamente correcto", pode manter (e marcar) uma posição inequívoca da maneira como pensa enquanto cidadã.
Que pena que muitos dos nossos democratas e homens e mulheres de esquerda se sintam obrigados, no desempenho de alguns cargos, a esquecerem todos os princípios e, em nome de uma mais que discutível "diplomacia", tratem por igual e de igual forma todos os que são considerados seus iguais.
É que certos figurões, só por serem primeiros-ministros ou presidentes de repúblicas, nunca serão "iguais" nem pares de quem defende verdadeiramente a democracia e os valores em que ela assenta.
Mais uma vez o casal Obama deu esse exemplo.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

NO QUE DÁ A POLÍTICA "DE VERDADE"

Recebi alguns "remoques" segundo os quais me teria enganado nas contas ao dizer que o PS tinha mais Câmaras que o PSD.
Não enganei e não emendo o que disse.
Alguma direita anda sempre com a verdade absoluta na boca. Só ela fala verdade. Só ela tem valores. Até porque tem aquilo a que os estalinistas chamavam "superioridade  moral". Confesso que esse conceito é algo que me dá "pele de galinha". Sei, sabemos todos, o que deu essa superioridade nos tempos do "glorioso comunismo" e dos seus gulags, deportações em massa e campos de extermínio. Sabemos no que se traduzia em termos de corrupção e mordomias dos apparachicks dos partidos.
Sabemos hoje no que dá a "superioridade moral" da direita. Não apenas por esse mundo fora - veja-se o caso do inenarrável Berlusconni, ou do patético presidente checo - mas também dentro de portas, com notícias encomendadas a jornais, com votos comprados a 30 euros fora da época de "rebajas", com a ameaça de rasgar hoje compromissos internacionais assinados ontem...
E ainda se arrogam a exclusividade da verdade!
Mesmo quando mistificam e manipulam os números com todo o descaramento e falta de pudor.
Um exemplo que devia ficar para a história e ser estudado nas faculdades de comunição social foi o do discurso de vitória de Manuela Ferreira Leite na derrota do PSD.
Desde logo porque vem provar o axioma de Goebbels segundo o qual, uma mentira muitas vezes repetida começa a ser considerada como verdade. E o que me parece é que Ferreira Leite anda há tantos meses a proclamar mentiras que ela própria já acredita nelas.
Mas também porque revela o grau zero da manipulação de resultados.
Sejamos claros:
O que os resultados nos dizem é que o PS ganhou 131 Câmaras Municipais e o PSD ganhou 117. Em votos o PS teve 2.083.833 e o PSD 1.269.821. Ou seja, mais 814.012 votos!
O que se passa é que o PSD ganhou em mais 19 Câmaras coligado com o CDS/PP, em mais 2 coligado com o CDS/PP, MPT e PPM,  noutra coligado só com o CDS/PP  e o PPM e noutra coligado só com o MPT.
A soma dessas coligações todas  dá-lhes mais 871.599, ou seja cerca de mais 57.597 votos que os obtidos pelo PS sózinho.
O que a "xica-esperta" da líder da direita veio fazer foi mais uma das suas célebres "ginásticas com números" a que nos habituou quando foi Ministra das Finanças . Ou seja, conta as vitórias das coligações e os seus votos como se fossem exclusivamentge do PSD... Ou seja, como se os seus parceiros de coligação não tivessem sido votados... O que diz bem da ética política e pessoal desta senhora que há vários meses nos  massacra em discursos e outdoors com a "Política de Verdade".
Ainda por cima quando, em muitas dessas Câmaras basta retirar os votos obtidos em 2005 pelo CDS para a Câmara ser perdida. E penso que ninguém tem dúvidas de que o CDS de 2009 teve votações muito superiores às do CDS de 2005.
Por isso considero o discurso de Manuela Ferreira Leite na noite de dia 11, de uma profunda desonestidade política e intelectual, bem típica da direita desnorteada que lidera.
É neste quadro que não retiro nada do que escrevi sobre a vitória em toda a linha do Partido Socialista.
Para o PSD deixo apenas uma resposta: Ninguém concorre ao título de "Homem mais alto do mundo" apresentando-se às cavalitas do pai!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

GRANDE VITÓRIA DO PS!

Como é bom e ao mesmo tempo frustrante assistir, a tantos milhares de quilómetros, pela RTP Internacional e pela Internet, a uma vitória desta dimensão do PS! Bom.porque é a prova de que o eleitorado não é estúpido. Pune quando acha que deve punir... Confia nos que acha capazes e a quem reconhece honestidade, valor e vontade de fazer...
Bom porque a vitória de António Costa é a vitória da verdade e do trabalho. É a vitória de alguém que não tem medo de se assumir como um político de esquerda. E bom também por ver a minha Junta de Freguesia reconquistada ao PSD por 4 votos. Arrancada a ferros a gente desqualificada e desonesta que até no dia de reflexão mandou distribuir pelas caixas de correio dos eleitores um boletim a vangloriar-se do que fez e sobretudo do que não fez e a atacar a Câmara de Lisboa! É esta a direita que temos.
Frustrante porque tive de festejar sozinho no meu quarto de hotel, quando o que me apetecia era festejar ao lado de outro homem de esquerda, o obreiro da nossa vitória na Junta, o seu novo Presidente.
Parabéns Zé Maria. Esta vitória é tua e os fregueses vão agradecer terem votado em ti.
A única vantagem de ter ficado aqui no Hotel foi o ter tido ocasião de assistir, entre incrédulo, chocado e divertido, ao discurso da sinistra líder da direita nacional.
Vir dizer que o PSD ganhou estas eleições exige uma dose descomunal de lata, ou uma total incompreensão do mundo que a rodeia. Esta senhora devia ser internada pois vive num mundo de delírio. Ou então não sabe mesmo fazer contas, o que explica os seus desaires, para não dizer bacoradas, enquanto Ministra das Finanças.
Vejamos: Com 10 freguesias por apurar, o PS tinha 130 Câmaras e o PSD 115 (porque as outras 18 são ganhas em coligação com o PP e sem ele o PSD não as tinha ganho); o PS tinha 2.078.156 votos e o PSD 1.264.121, ou seja, 814.035 votos a menos, o PS tinha 1581 presidentes de Junta e o PSD 1519...
Se juntarmos a isto o facto de António Costa ter pela primeira vez ganho a Câmara de Lisboa sozinho e contra a coligação de direita, a conquista, entre outras, das câmaras de Beja e Aljustrel ao PC, e das câmaras de Leiria, Barcelos, Figueira da Foz, Tavira, ao PSD, ganha pela primeira vez a maioria das Câmaras dos Açores, no mínimo não se compara com a tão propagandeada perda de Faro por menos de 100 votos.
Ou seja, em boa verdade a única coisa que o PSD pode ganhar com estas eleições é a saída da "líder". Pela parte que me toca, tenho pena. Devia ficar mais uns tempos e falar... falar muito... arfar da "asfixia democrática"...
Mas, por outro lado, enquanto cidadão, acho que a sociedade e a política portuguesa só tem a lucrar com a saída de cena de gente tão sinistra, tão intelectualmente desonesta e tão intrinsecamente reaccionária.
Há quem tente desesperadamente imitar a "dama de ferro" e não consiga passar de uma "mulher ferrugenta"!

domingo, 11 de outubro de 2009

MATRIZ IDEOLÓGICA E COMPORTAMENTOS INCONSCIENTES

Hoje o dia vai ser de lufa-lufa.

Acordei de manhã bem cedo, fui votar e contribuir para o que espero venha a ser uma grande vitória da esquerda em Lisboa, com o António Costa e na minha Junta de Freguesia com o Zé Maria, e segui logo para o aeroporto, para apanhar o avião para Zurique e daí seguir para Lucerna, onde amanhã me espera uma reunião.
Já no aeroporto, comprei o jornal para ler na viagem. Comprei o Diário de Notícias. Já sentado na sala de espera dei por mim a reflectir sobre os comportamentos e atitudes que se adoptam quase sem se dar por isso. Isto porque me lembrei que, como tantos outros portugueses, democratas e de esquerda, saudei, quase com euforia, o surgimento do jornal "Público", cujo nascimento, ainda por cima, tive o privilégio de acompanhar um pouco mais de perfto que o comum dos cidadãos, já que nele estiveram envolvidos alguns amigos de longa data e de muitos combates pela democracia.
Relembrei que, durante muitos anos, comprar o Público era quase um ritual diário de saudação ao Sol: acordar, levantar da cama, lavar a cara, sair para comprar o Público e só então começar verdadeiramente o dia.
Tudo nele prometia. Desde logo o seu "Livro de Estilo", claramente inspirado no Livro de Estilo daquele que para mim é, senão o melhor, um dos melhores diários do mundo, o "El Pais".
Um esforço de reflexão lembra-me que, a partir de um dado momento, que não sei precisar bem qual, foi diminuindo o entusiasmo com que o comprava e a avidez com que o lia.
Cada vez mais se assistia a uma deriva à direita, à defesa de um neoliberalismo cada vez menos encapotado, a um eleger cada vez mais óbvio do Partido Socialista e dos seus dirigentes como alvos a abater, a uma abordagem da política nacional cada vez mais própria de um "Independente" que do "Público" que conhecíamos. Era cada vez mais clara a linha "Ti Belmiro".
Como vai longe a visão inicial do seu Livro de Estilo...
Torna-se, cada vez mais, o jornal da direita mais intelectual, daquela que se pretende culta e não se revê nas 25 páhinas de crimes e anúncios classificados de massagistas brasileiras do Correio da Manha (não é erro ortográfico, não está lá o ~de propósito).
E a um dado momento repara-se que já só se compra o Público para ler o Calvin e Hobbes na última página.
No interior, o desiquilibrio é total: artigos de criptocomunistas ressaibiados, e de neoliberais catedráticos convergem e fazem o pleno dos ataques (políticos e pessoais) ao Partido Socialista e aos seus dirigentes.
E como isso é pouco para se comprar um jornal, deixei de comprar o "Público".
Ao princípio tinha a desculpa de consultar a edição on-line. Mas, passado algum tempo, reparei que já nem essa consultava.
Já só lia com prazer o "Inimigo Público". E isso era muito pouco.
Falta motivação para a sua leitura porque, desde logo, oferece pouca credibilidade. Cada vez disponibiliza mais "opinião publicada", e sempre do mesmo quadrante, e cada vez menos contribui para a "opinião pública".
Confesso que o email divulgado pelo Diário de Notícias não me surpreendeu. Apenas deu corpo à suspeita que há muito, genuinamente, crescia dentro de mim.
Mas magoou-me. Eu, como tantos outros, acreditámos no Público quando ele nasceu. E por isso sinto-me atraiçoado. A única penalização que posso dar ao Público é não o comprar. E não precisei de pensar expressamente nisso. A minha matriz ideológica, os valores de onde venho e nos quais me revejo, a defesa dos valores que defendo, há muito que me tinham ditado, inconscientemente, o comportamento a seguir.
Para a esquerda na qual me revejo, não pode haver controlo da comunicação social pelos governos. Mas este não é mais nem menos criticável que o controlo pelos grupos económicos ou pelas oposições.
A comunicação social só pode ser livre, mas tem de ser produzida por profissionais conscientes, probos e independentes e não por quem se julga acima de qualquer escrutínio.
Há que perceber que a política partidária se faz dentro dos partidos e a informação se faz nos orgãos de comunicação. A "mistura de sangues" pode matar a democracia ao retirar-lhe o oxigénio de que necessita para viver.
E cá vou eu para Zurique.

OBAMA NOBEL DA PAZ



Barak Obama foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz.

Ninguém (para além do louco líder iraniano) se "atreveu" a contestar a justeza do prémio.
No entanto e desde logo muitos (os do costume, diria eu) entre analistas, comentaristas, jornalistas e outros artistas, tentaram minar o júbilo por esta distinção com comentários do género: "eu até acho bem, só acho que foi um pouco cedo demais..." ou  "é justo mas só pelas intenções, já que ainda não fez nada..."
Bom... em primeiro lugar há que verificar a longa lista dos laureados para de imediato constatar que, de entre eles, muitos terão eventualmente feito obra, mas dela não restou memória para as gerações futuras. De Barak Obama por certo se continuará a falar muito depois de terminar o ou os seus mandatos.
A mesma leitura revela-nos que, da lista de laureados constam algumas figuras mais merecedoras do epíteto de "figurões" que, em relação à paz... estamos conversados.
Como Henry Kissinger (não sei qual será o seu mais alto contributo para a paz? Será a Guerra do Vietnam? Ou será a decisão que chegou a tomar em 1975 de deixar Portugal cair na esfera soviética?). Ou o senhor Arafat, que entre meninos e reuniões pacíficas lá ia mandando pôr umas bombas?
Parece-me mais que óbvio que há pelo menos uma coisa que Obama já fez: Restaurar a esperança, não apenas nos EUA mas um pouco por todo o mundo, de que a mudança é possível.
E não vejo, nos tempos que correm, maior contributo para a paz do que o restaurar a esperança em que ela é possível, restaurar a esperança em que é possível um mundo novo e melhor sem ser pela via da conquista, da violência, da imposição.
E julgo ser óbvio, para quem queira ver, que foi essa a razão da atribuição do Nobel.
Mas infelizmente, os velhos do Restelo do costume serão sempre os mais relapsos a todas as evidências.
E muitos deles tinham inclusivamente obrigação de saber que Obama só saltou agora para as páginas dos jornais, após ser eleito, porque essas mesmas "mentes iluminadas", antes disso nunca lhe atribuiram qualquer hipótese. Primeiro eram os republicanos que tinham a eleição garantida, sobretudo após a escolha do seu candidato, capaz de ir comer votos até entre democratas, depois era Hillary a mais que certa vencedora (... pois se ele até é preto e tem um nome com ressonâncias árabes... Não tem hipóteses...).
Tinham obrigação de saber que Obama não é um epifenómeno. Tem um pensamento próprio bem alicerçado. Tem obra escrita. E o seu trajecto e pensamento está bem claro por exemplo numa das suas obras "The Audacity of Hope", cuja leitura recomendo vivamente a todos quantos querem repensar a esquerda. Pela minha parte, se ainda tivesse idade para ter "livros de cabeceira" este seria seguramente um deles.
Mas, na realidade, do que esses analistas e gurus neoliberais têm medo é de que uma reflexão sobre as suas políticas sociais e as suas opções económicas ponha a nú o escândalo da destruição do Estado e a elevação de uma nova classe de especuladores sem rosto ao poder.
Já os "analistas" de uma certa esquerda anquilosada ou folclórica, ao mesmo tempo que não conseguem esconder o incómodo de esta nova reflexão, ideologicamente bem marcante, partir da "pátria do imperialismo", da "mãe de todos os capitalismos", igualmente não conseguem esconder o medo de que a reflexão alastre para fora da coutada restrita de que são maiorais. Falam em nome do povo não por de facto o representarem (e os resultados eleitorais são bem o espelho disso), mas porque o consideram "um rebanho" do qual são pastores e cães de guarda.
E é exactamente a inevitabilidade desta polarização entre neoliberais esfaimados e neocomunistas anquilosados que o pensamento de Obama põe em causa.
E diz que há uma via de esquerda entre estes dois "desvios".
E lança assim as bases para uma reflexão que nos conduza à tão propalada Nova Ordem Mundial.
E haverá, nos nossos dias melhor contributo para a Paz do que esse?
E haverá, nos tempos difíceis, de crise acentuada, de recessão, de desemprego, de depressão generalizada como os que vivemos, melhor contributo para a Paz do que a Esperança?
É por isso que considero justissimo o prémio atribuido a Obama e um desafio a discutir a fundo as suas ideias e propostas.

UM CONTRIBUTO PARA A REFLEXÃO À (OU DA) ESQUERDA

Eis um primeiro texto de reflexão enviado pelo Joffre Justino, ao qual agradeço:

A Esquerda necessita hoje da mais profunda reflexão. Os tempos do predomínio, a nível planetário, marxista leninista conduziram ao fracasso que terminou com a destruição do Muro de Berlim e o golpe de Estado que eliminou M. Gorbatchev.


É certo que ficaram, desses tempos, alguns resquícios como o Vietnam, Cuba e a Coreia do Norte e, ainda uma República Popular da China que vive o tempo da “transição para a economia de mercado”.

E, ainda, alguns partidos comunistas que teimam em viver antes de 1989.

Mas a Esquerda, no restante recomeçou um momento de auto procura, de reflexão sobre o como se posicionar neste Novo Mundo, que Reagan, os reaganianos e os neo liberais consideraram definitivamente como seus, escrevendo por isso textos como O Fim da Historia, e gerando desastres como a governação da família Bush.

Eu, nesse caminho desde 1976/7, o da reflexão, depois de ter abandonado o marxismo leninismo maoismo, sinto-me com a crescente necessidade de regressar aos tempos do abaixo o Estado, não para anarquicamente o repudiar, claro, mas sobretudo para o reequacionar e mais uma vez, limitar.

Reequacionar porque estamos nos tempos dos supra Estados, ou dos não Estados, de todo. E os não Estados mostraram já, com a crise que vivemos, o seu fracasso.

Daí que comece por dizer, abaixo as Nações Unidas, e viva a Democratização das Nações Unidas do Futuro!

Eleições já para a Assembleia Geral das Nações Unidas é o que os tempos de hoje exigem, controlo dos movimentos financeiros, taxação planetária dos mesmos, por forma a acompanhar-se a livre circulação de capitais, tal como se exige a taxação planetária do bens e serviços e, claro a Livre Circulação das Pessoas.

Como é essencial a regulamentação regional das economias e actividades económicas, mais que a regulamentação estatal.

E, muita, mas mesmo muita Democracia, politica, económica e social mas de âmbito planetário, com forte incentivo da Responsabilidade Social, com forte recriação da Economia Social, do Cooperativismo, do Autogestionarismo, do controlo dos monopólios, de um forte e planetário Sindicalismo.

Para já, fico-me por aqui
 
Joffre Justino

sábado, 10 de outubro de 2009

PIRATAS SOMALIS




Confesso que me custa a entender a persistência deste problema. Para nós não é nada de novo, sobretudo acontecendo onde acontece. Os nossos capitães e vice-reis tiveram de enfrentar o mesmo problema. E resolveram-no, à maneira da época, pendurando os piratas capturados no alto dos mastros dos nossos navios.


Ganharam fama de sanguinários mas não consta que as populações locais tenham sido prejudicadas (bem pelo contrário) e abriram-se as portas à primeira Globalização.

Hoje, é claro, os tempos mudaram, a civilização avançou e os métodos não podem ser os mesmos. Isso é compreensível para todos.

O que já me parece incompreensível é que as democracias estejam hoje de pés e mãos atadas face à ameaça destes novos piratas.

Javier Solana, Alto Representante da União Europeia para a Política Externa e de Segurança Comum, manifestava ontem, por altura do 10º aniversário da Política Europeia de Segurança e Defesa, a sua satisfação pelos resultados já alcançados.

Não posso estar de acordo com ele. Estou em relação a muitos outros teatros de intervenção das tropas europeias, mas não no Oceano Índico. Há mais de um ano que uma força naval de respeito, com 13 fragatas e muitos outros navios de apoio recebeu como missão acabar com a pirataria na zona.

E há que referir que estes novos piratas, geralmente a soldo de senhores da guerra locais, têm lanchas rápidas, armas modernas e sofisticadas que incluem lança-rockets e metralhadoras pesadas e avançados sistemas de comunicação

Curiosamente o material de guerra de que dispõem é superior aquele com que os armadores espanhóis foram autorizados a armar mercenários que vão passar a embarcar na sua frota atuneira que pesca na zona e que já viu várias embarcações sequestradas.

Todo esse material de guerra é vendido por alguém… E as lanchas rápidas aparentemente não servem só para sequestros.

Raides cirúrgicos da força aérea e de tropas especiais, como os fuzileiros, poderiam destruir em pouco tempo essas lanchas rápidas.

Isso em nada prejudicaria os pobres dos pescadores locais, que não têm lanchas dessas. Quanto ao facto de esses ataques terem de ser feitos nas águas territoriais em que se acolhem… bem, considero que só têm direito a invocar o Direito Internacional os países(?) que o aplicam, e não Estados-párias governados por senhores da guerra locais e outros criminosos comuns.

Não consigo por isso perceber por que razão é exigida tanta contenção às Marinhas que aí defendem uma das mais antigas liberdades internacionalmente reconhecidas, a liberdade de navegação.

E, pasme-se, estes bandidos têm escritórios de advogados que os “representam”, ou pelo menos os defendem, em capitais europeias como Londres! É isto que acho inaceitável e não percebo em nome do que é aceite. Será que se aceitava que uma rede de pedófilos tivesse um escritório de advogados a representá-la numa qualquer capital europeia? Ou que a Al-Qaeda nomeasse um escritório de advogados famoso para representar os seus interesses na Europa? Ou que o Cartel de Medellin abrisse uma representação na EU (como se disso precisasse)? Então porquê toda esta “diplomacia” e “paninhos quentes” para com estes criminosos comuns?

Curiosamente lembro-me de que, ainda não há muitos anos, cidadãos portugueses foram perseguidos e viram as suas contas bancárias congeladas pelo simples facto de serem dirigentes ou militantes da UNITA. E isto por decisão da ONU, de imediato servilmente acatada pelo governo português da época. A razão era simples: o MPLA de Eduardo dos Santos, recém órfão da queda do muro de Berlim e da implosão do sistema soviético de que era uma das grandes esperanças, acabava de ser adoptado por um novo pai, os EUA de Bush pai, que entretanto tinham descoberto que o “órfão” era herdeiro de uma grande fortuna em petróleo, diamantes, madeiras, café, etc. etc. etc.

A rapidez com que se diabolizou a UNITA foi estonteante. Rapidamente foi colocada na lista das organizações terroristas, apesar de nunca ter posto uma bomba ou feito um ataque militar que não fosse resultante da sua política de luta pela liberdade de Angola, e em Angola.

O que impede hoje as democracias de tomarem a mesma atitude para com os representantes e porta-vozes destes criminosos comuns da actualidade?

Veio-me isto à memória por verificar como as democracias podem ter dois pesos e duas medidas.

E esta atitude não é digna da esquerda, até porque fragiliza a democracia.

A defesa das liberdades passa também pela liberdade de navegação. Passa por não ceder à chantagem do crime comum. Passa por responder com mão-de-ferro a quem se arroga o direito de roubar, raptar, sequestrar, extorquir.

Só assim as democracias venceram os totalitarismos nazi e nipónico na 2ª Guerra Mundial. E isso não foi conseguido pela política pacifista e demissionista de Neville Chamberlain mas sim pela política enérgica e de resistência de Winston Churchill.

Ser de esquerda não é dar a outra face, sobretudo quando essa outra face é a de inocentes. É usar de todos os meios ao dispor, incluindo a força, para garantir as liberdades. Aliás, não é isso que estamos a fazer no Afeganistão?

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

BOMBORDO

Para os menos familiarizados com a terminologia náutica, bombordo é a esquerda.
E é à esquerda que eu estou.
Numa esquerda que se quer responsável, solidária, criativa e progressista.
Mas uma esquerda que, infelizmente, se tem discutido e questionado pouco, de tão assoberbada que está com ataques de toda a ordem, vindos de uma direita bafienta e sem escrúpulos e de uma "esquerda" folclórica ou anquilosada cujas práticas e valores se chegam a confundir com os da direita mais reaccionária.
Há um debate à esquerda que continua por fazer. Há um repensar quotidiano da esquerda que ninguém parece muito interessado em alimentar. O pensamento de esquerda anda a perder-se, na actividade, sem dúvida necessária mas seguramente insuficiente, de responder taco-a-taco aos dislates da direita.
É para esse debate que pretendo, modestamente, contribuir.
O rumo é, tem de ser, "Tudo a Bombordo!"