Barak Obama foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz.
Ninguém (para além do louco líder iraniano) se "atreveu" a contestar a justeza do prémio.
No entanto e desde logo muitos (os do costume, diria eu) entre analistas, comentaristas, jornalistas e outros artistas, tentaram minar o júbilo por esta distinção com comentários do género: "eu até acho bem, só acho que foi um pouco cedo demais..." ou "é justo mas só pelas intenções, já que ainda não fez nada..."
Bom... em primeiro lugar há que verificar a longa lista dos laureados para de imediato constatar que, de entre eles, muitos terão eventualmente feito obra, mas dela não restou memória para as gerações futuras. De Barak Obama por certo se continuará a falar muito depois de terminar o ou os seus mandatos.
A mesma leitura revela-nos que, da lista de laureados constam algumas figuras mais merecedoras do epíteto de "figurões" que, em relação à paz... estamos conversados.
Como Henry Kissinger (não sei qual será o seu mais alto contributo para a paz? Será a Guerra do Vietnam? Ou será a decisão que chegou a tomar em 1975 de deixar Portugal cair na esfera soviética?). Ou o senhor Arafat, que entre meninos e reuniões pacíficas lá ia mandando pôr umas bombas?
Parece-me mais que óbvio que há pelo menos uma coisa que Obama já fez: Restaurar a esperança, não apenas nos EUA mas um pouco por todo o mundo, de que a mudança é possível.
E não vejo, nos tempos que correm, maior contributo para a paz do que o restaurar a esperança em que ela é possível, restaurar a esperança em que é possível um mundo novo e melhor sem ser pela via da conquista, da violência, da imposição.
E julgo ser óbvio, para quem queira ver, que foi essa a razão da atribuição do Nobel.
Mas infelizmente, os velhos do Restelo do costume serão sempre os mais relapsos a todas as evidências.
E muitos deles tinham inclusivamente obrigação de saber que Obama só saltou agora para as páginas dos jornais, após ser eleito, porque essas mesmas "mentes iluminadas", antes disso nunca lhe atribuiram qualquer hipótese. Primeiro eram os republicanos que tinham a eleição garantida, sobretudo após a escolha do seu candidato, capaz de ir comer votos até entre democratas, depois era Hillary a mais que certa vencedora (... pois se ele até é preto e tem um nome com ressonâncias árabes... Não tem hipóteses...).
Tinham obrigação de saber que Obama não é um epifenómeno. Tem um pensamento próprio bem alicerçado. Tem obra escrita. E o seu trajecto e pensamento está bem claro por exemplo numa das suas obras "The Audacity of Hope", cuja leitura recomendo vivamente a todos quantos querem repensar a esquerda. Pela minha parte, se ainda tivesse idade para ter "livros de cabeceira" este seria seguramente um deles.
Mas, na realidade, do que esses analistas e gurus neoliberais têm medo é de que uma reflexão sobre as suas políticas sociais e as suas opções económicas ponha a nú o escândalo da destruição do Estado e a elevação de uma nova classe de especuladores sem rosto ao poder.
Já os "analistas" de uma certa esquerda anquilosada ou folclórica, ao mesmo tempo que não conseguem esconder o incómodo de esta nova reflexão, ideologicamente bem marcante, partir da "pátria do imperialismo", da "mãe de todos os capitalismos", igualmente não conseguem esconder o medo de que a reflexão alastre para fora da coutada restrita de que são maiorais. Falam em nome do povo não por de facto o representarem (e os resultados eleitorais são bem o espelho disso), mas porque o consideram "um rebanho" do qual são pastores e cães de guarda.
E é exactamente a inevitabilidade desta polarização entre neoliberais esfaimados e neocomunistas anquilosados que o pensamento de Obama põe em causa.
E diz que há uma via de esquerda entre estes dois "desvios".
E lança assim as bases para uma reflexão que nos conduza à tão propalada Nova Ordem Mundial.
E haverá, nos nossos dias melhor contributo para a Paz do que esse?
E haverá, nos tempos difíceis, de crise acentuada, de recessão, de desemprego, de depressão generalizada como os que vivemos, melhor contributo para a Paz do que a Esperança?
É por isso que considero justissimo o prémio atribuido a Obama e um desafio a discutir a fundo as suas ideias e propostas.
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