Confesso que me custa a entender a persistência deste problema. Para nós não é nada de novo, sobretudo acontecendo onde acontece. Os nossos capitães e vice-reis tiveram de enfrentar o mesmo problema. E resolveram-no, à maneira da época, pendurando os piratas capturados no alto dos mastros dos nossos navios.
Ganharam fama de sanguinários mas não consta que as populações locais tenham sido prejudicadas (bem pelo contrário) e abriram-se as portas à primeira Globalização.
Hoje, é claro, os tempos mudaram, a civilização avançou e os métodos não podem ser os mesmos. Isso é compreensível para todos.
O que já me parece incompreensível é que as democracias estejam hoje de pés e mãos atadas face à ameaça destes novos piratas.
Javier Solana, Alto Representante da União Europeia para a Política Externa e de Segurança Comum, manifestava ontem, por altura do 10º aniversário da Política Europeia de Segurança e Defesa, a sua satisfação pelos resultados já alcançados.
Não posso estar de acordo com ele. Estou em relação a muitos outros teatros de intervenção das tropas europeias, mas não no Oceano Índico. Há mais de um ano que uma força naval de respeito, com 13 fragatas e muitos outros navios de apoio recebeu como missão acabar com a pirataria na zona.
E há que referir que estes novos piratas, geralmente a soldo de senhores da guerra locais, têm lanchas rápidas, armas modernas e sofisticadas que incluem lança-rockets e metralhadoras pesadas e avançados sistemas de comunicação
Curiosamente o material de guerra de que dispõem é superior aquele com que os armadores espanhóis foram autorizados a armar mercenários que vão passar a embarcar na sua frota atuneira que pesca na zona e que já viu várias embarcações sequestradas.
Todo esse material de guerra é vendido por alguém… E as lanchas rápidas aparentemente não servem só para sequestros.
Raides cirúrgicos da força aérea e de tropas especiais, como os fuzileiros, poderiam destruir em pouco tempo essas lanchas rápidas.
Isso em nada prejudicaria os pobres dos pescadores locais, que não têm lanchas dessas. Quanto ao facto de esses ataques terem de ser feitos nas águas territoriais em que se acolhem… bem, considero que só têm direito a invocar o Direito Internacional os países(?) que o aplicam, e não Estados-párias governados por senhores da guerra locais e outros criminosos comuns.
Não consigo por isso perceber por que razão é exigida tanta contenção às Marinhas que aí defendem uma das mais antigas liberdades internacionalmente reconhecidas, a liberdade de navegação.
E, pasme-se, estes bandidos têm escritórios de advogados que os “representam”, ou pelo menos os defendem, em capitais europeias como Londres! É isto que acho inaceitável e não percebo em nome do que é aceite. Será que se aceitava que uma rede de pedófilos tivesse um escritório de advogados a representá-la numa qualquer capital europeia? Ou que a Al-Qaeda nomeasse um escritório de advogados famoso para representar os seus interesses na Europa? Ou que o Cartel de Medellin abrisse uma representação na EU (como se disso precisasse)? Então porquê toda esta “diplomacia” e “paninhos quentes” para com estes criminosos comuns?
Curiosamente lembro-me de que, ainda não há muitos anos, cidadãos portugueses foram perseguidos e viram as suas contas bancárias congeladas pelo simples facto de serem dirigentes ou militantes da UNITA. E isto por decisão da ONU, de imediato servilmente acatada pelo governo português da época. A razão era simples: o MPLA de Eduardo dos Santos, recém órfão da queda do muro de Berlim e da implosão do sistema soviético de que era uma das grandes esperanças, acabava de ser adoptado por um novo pai, os EUA de Bush pai, que entretanto tinham descoberto que o “órfão” era herdeiro de uma grande fortuna em petróleo, diamantes, madeiras, café, etc. etc. etc.
A rapidez com que se diabolizou a UNITA foi estonteante. Rapidamente foi colocada na lista das organizações terroristas, apesar de nunca ter posto uma bomba ou feito um ataque militar que não fosse resultante da sua política de luta pela liberdade de Angola, e em Angola.
O que impede hoje as democracias de tomarem a mesma atitude para com os representantes e porta-vozes destes criminosos comuns da actualidade?
Veio-me isto à memória por verificar como as democracias podem ter dois pesos e duas medidas.
E esta atitude não é digna da esquerda, até porque fragiliza a democracia.
A defesa das liberdades passa também pela liberdade de navegação. Passa por não ceder à chantagem do crime comum. Passa por responder com mão-de-ferro a quem se arroga o direito de roubar, raptar, sequestrar, extorquir.
Só assim as democracias venceram os totalitarismos nazi e nipónico na 2ª Guerra Mundial. E isso não foi conseguido pela política pacifista e demissionista de Neville Chamberlain mas sim pela política enérgica e de resistência de Winston Churchill.
Ser de esquerda não é dar a outra face, sobretudo quando essa outra face é a de inocentes. É usar de todos os meios ao dispor, incluindo a força, para garantir as liberdades. Aliás, não é isso que estamos a fazer no Afeganistão?
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